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Quem deve liderar a mudança em saúde: operadoras, empresas, hospitais, governo, empreendedores… Quem?

Este post responde à pergunta do título. Ele chega à conclusão que um dos players tem mais condições de liderar a mudança do que os demais. Qual é este player e por que deve ser ele?

Antes de responder temos que combinar umas coisas.

1-Não vale dizer que “a mudança é responsabilidade de todos” . Isso é lorota. É inócuo em gestão porque não leva a resultados.

Gestão é sobre uma forma de mentalizar o mundo. Exige que se pense direito para que se possa responder certo. Sem liderança definida/clara/”não ambígua”, não acontece mudança. Nunca aconteceu em setor nenhum.

2-Deve liderar quem tiver mais motivação e recursos para liderar. Mas liderar em direção a que? Onde queremos chegar?

Queremos mudar um mercado dominado por quem vende (seller’s market)-que é o que temos hoje- para um mercado moldado por quem compra (buyer’s market), como é todo mercado saudável.
Ou seja, queremos fazer o consumidor de saúde decidir o que é melhor para ele, como faz em todos os demais setores.

Como são as coisas hoje?

O preço é estabelecido pelo fornecedor do serviço. Quem paga, ou aceita o preço, ou fica sem o serviço.
-Em quanto tempo serei atendido?
“Aguarde na fila. Estamos fazendo o nosso melhor”.
Como é a qualidade do seu serviço?
“Somos acreditados internacionalmente. Confie em nós”.
E seu desempenho?
“Sabemos o que nossos clientes precisam, aguarde na fila e confie em nós”

Como queremos que as coisas fiquem?

Preço: determinado pelo mercado (via competição por valor)
Tempo de resposta: determinado pelo tempo de resposta dos melhores do mercado
Qualidade: Determinada pela qualidade das melhores do mercado
Desempenho: impulsionado pelos clientes (os clientes escolhendo, obrigam os prestadores a se ajustarem ao que eles demandam).

O que queremos é isso. Essa deve ser a direção da mudança.

É isso o que chamamos de Value Based Health Care.
Atenção à saúde com base em valor.

Quais os critérios para decidirmos qual dos players está melhor posicionado para induzir as mudanças em direção ao VBHC? Fiz um exercício e cheguei aos seguintes requisitos que o agente da mudança deve ter. Eles refletem o interesse e a motivação do agente para agir. Não basta apenas dizer que tem interesse, ele deve estar motivado a agir segundo esse interesse. Deve ganhar por agir assim.

O agente da mudança deve ter INTERESSE e MOTIVAÇÃO para:
1. Conhecer cada cliente um a um;
2. Lucrar com a saúde não com a doença;
(ver meu post anterior para entender por que)
3. Buscar uma relação de longo prazo com cliente;
4.Ter força para agir decisivamente quanto à mudança;
5.Oferecer serviços em amplas regiões geográficas.

Bem, em seguida avaliei os possíveis agentes de mudança segundo cada um dos itens acima. Usei o seguinte critério:

criterio

E veja como ficou a avaliação geral:

mudanca

 

 

O que concluímos?

Os empregadores (empresas contratantes) são o agente que tem mais condições de liderar a mudança necessária em saúde rumo ao VBHC.

Isso faz sentido, e deve valer mesmo mesmo que você avalie os agentes segundo critérios diferentes dos que usei. Empregadores pagam mais de 70% das contas dos beneficiários da saúde privada. O que as operadoras e prestadores fazem por seus funcionários é ainda, em grande parte, “caixa preta” total. Todo ano arcam com reajustes enormes (~20%) , e gastos com saúde já são o segundo maior item de despesas da maioria das empresas (atrás apenas da folha de pessoal).

Repare como uma aliança de empresas contratantes direto com empreendedores, teria um efeito devastador (positivo) no mercado. Isso pode já estar acontecendo fora do Brasil se entendermos “empreendedores” como empresas sem tradição em saúde (Amazon, Google, Apple..) todos se posicionando para o mercado de saúde. No Brasil também há sinais.

Os empreendedores são o segundo player com mais condições, mas não têm força suficiente para agir e têm cometido um equívoco: buscam fornecer seus serviços para operadoras e hospitais que não têm grande possibilidade (nem interesse, no caso dos hospitais) para agir decisivamente rumo ao VBHC.

Os empreendedores têm que falar direto com as grandes empresas privadas.

 

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