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O homem mais importante do qual você nunca ouviu falar

shannon

O que Shannon quis dizer na sentença final de sua definição de comunicação: “frequentemente as mensagens têm significado”? (ver post anterior). Em nosso entendimento intuitivo, mensagens sem significado não são mensagens, mas ele insistiu em deixar de fora essa noção, talvez com receio de entrar num campo filosófico demais. Ele era engenheiro. “Os aspectos semânticos da comunicação são irrelevantes para o problema de engenharia”, declarou logo nas primeiras linhas de seu famoso paper de 1948.

É uma sorte que informação tenha sido, no início, tratada por engenheiros. Se tivessem sido físicos (conheço a turma), eles tenderiam a buscar verdades cósmicas, princípios ligados ao interior da matéria, à origem do universo, essas coisas. Mas um engenheiro trataria a coisa como Shannon fez – como um problema análogo a construir um duto que leve água de um ponto a outro, ou uma ponte, ou um canal- coisas concretas para resolver premências no mundo real.

Lembremos que, segundo sua definição, uma mensagem é sempre a seleção de um sinal improvável no meio de um oceano de ruído sem significado. Ruído-desordem- que tende a engolfar tudo, e que é o estado natural das coisas. Essa “naturalidade” da desordem (entropia) se expressa de várias maneiras em linguagem coloquial, por exemplo: “desordem não tem custo, ordem sim. Existem poucas maneiras de se estar vivo e infinitas maneiras de não se estar. É mais natural não ser nada do que ser alguma coisa. Não só não existe almoço grátis, como seu preço é sempre maior do que podemos pagar”…

O que Shannon estava dizendo é que comunicação é antinatural por ser algo que tem estrutura (linguagens têm estrutura). Natural é a desordem, a indiferenciação e, portanto, para que ocorra comunicação, tem que existir algum tipo de inteligência capaz de discriminar (separar) o que é informação do que não é. E o que não é informação é sempre muito, muito, muito mais provável do que o que é. Informação é a antientropia.

É esse tipo de conjetura que está por trás da formulação de Shannon para comunicação. A capacidade de filtrar mensagens da confusão que tende a diluir tudo em irrelevância, é o que chamamos de inteligência- o primeiro passo para construir comunicação segundo a planta de engenharia que Shannon desenhou (e que vamos ver aqui mais adiante). Filtrar ordem da desordem. Selecionar.

A teimosia dele em deixar “significado” de fora, permitiu tratar informação como um processo de engenharia, mas isso não durou muito. Embutida na definição que ele propôs, estava a brecha pela qual “significado” retornaria à cena com força total algumas décadas depois, quando começamos a perceber que a inteligência mais competente para separar sinal de ruído não é a nossa (humana), mas a inteligência distribuída no superorganismo a que chamamos Internet. Bem vindo à era da inteligência artificial.

 

 

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