Innovatrix

A intrigante ciência das ideias que dão certo

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O título deste post é o do meu próximo livro que sai (breve) pela Alta Books. O tema me interessa ha muito tempo – inovação pode ser construída de forma sistemática, ou é aleatória, imprevisível? A resposta é que ela pode ser construída, mas temos de entender a dinâmica por meio da qual as novas ideias se instauram e permanecem na forma de inovações.

Se olharmos a história das grandes inovações – as que realmente mudaram o mundo – veremos que nenhuma foi pensada para ter o efeito que acabou tendo. É como uma vez eu escrevi em “Antropomarketing”:

Observando o que deu certo no passado, concluí que a maioria dos grandes sucessos de marketing só pode ser explicada depois, não foram planejados”. Aliás, não essas inovações poderiam ter sido planejadas  porque seu sucesso dependeu do cruzamento de muitas variáveis: econômicas, tecnológicas, culturais, demográficas, sociológicas. É esse conjunto de influências que define a “cabeça” de uma época, e, portanto, define se algo vai ser adotado ou não.

– O estribo transformou o cavalo de meio de transporte em arma de guerra, por permitir que o cavaleiro se firmasse para manusear uma espada ou lança, sem perder o equilíbrio. Quem tinha cavalos tinha poder. Mas para ter cavalos você tinha de ter terras, e surgiu então uma complexa hierarquia de posse de terras amarrada por uma ampla rede de lealdades. Esse “complexo agrícola – militar” passou a ser chamado de feudalismo. A tecnologia do estribo foi a origem remota do feudalismo. O chip produziu o mesmo efeito para a revolução da informação. O estribo e’ o chip de ontem-pequenos artefatos que mudaram o mundo.

E, assim como a locomotiva a vapor um dia cruzara com a estrada de ferro (tinham sido invenções independentes), o chip cruzou com um artefato tecnológico que também nada tinha a ver: a pílula anticoncepcional. Esse cruzamento do chip com a pílula permitiu que a mulher passasse a ter presença ativa em ambientes até então dominados pelo masculino. Na economia da informação (moldada pelo chip), trabalhar não requer mais força física, e como a mulher está no controle de sua biologia graças à pílula, ela hoje “guerreia” em todos os campos. A pílula e o chip são o cavalo e o estribo das mulheres.”

 

O novo livro de Steven Johnson “Como chegamos ao agora – Seis inovações que construíram o mundo moderno” -  trata da mesma ideia, e a ilustra por meio de seis histórias incríveis. A primeira delas é a do vidro, um material que existe desde sempre na crosta terrestre, mas que só se potencializou mesmo depois que Gutemberg inventou a impressão. O que tem a ver? Ao tentarem ler, muitas pessoas descobriram que eram míopes (antes da palavra impressa essas pessoas realmente não tinham qualquer motivo para querer enxergar perto com nitidez). Isso levou à indústria de lentes. Óculos.  Microscópio. Telescópio. Estrutura do DNA, avanços em biologia molecular, em astrofísica, tudo vindo do vidro que fez a lente que nos possibilitou ler… etc… Mais sobre o livro de Johnson no próximo post.

 

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