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Reputação – um sinal antropológico de que você não trapaceia

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Num jantar, 4 amigos combinam rachar a conta. Você, que pagará 25% da despesa, escolhe pratos que custem mais ou menos o mesmo que os que os outros pediram. É racional agir assim, pois um mais malandro que peça, digamos, lagosta, depois que os demais pediram pizza, será percebido como explorador e deixará de ser considerado “amigo”.

Já no almoço de fim de ano da empresa há umas 30 pessoas, e você (que está duro) pensa em pedir pizza. Os primeiros a escolher, porém, pedem camarões gratinados e você (que vai pagar 3% da conta de qualquer maneira) muda rapidinho – “camarão para mim também, seu garçom!”. O custo adicional para o grupo será mínimo, e você terá uma refeição bem melhor.

Mas, se todo mundo pensar e agir assim, o grupo gastará muito mais do que gastaria se cada um pagasse individualmente pelo que consumisse. A “decisão racional” de cada um, faz o grupo explorar a si próprio. Há inúmeras situações assim na vida social.A tentação de agir em benefício próprio, explorando o grupo do qual se pertence, é humana, mas há um fator que desestimula isso: reputação.

Reputação é sua “marca”- um sinal antropológico de que você não trapaceia. No passado, aqueles que trapaceavam seus grupos eram expulsos deles e não sobreviviam. Dura mais quem não trapaceia.

– Você se distrai estacionando seu GOL 1000 e amassa o BMW ao lado. Ninguém vê. Você, um cara decente, pensa em deixar um bilhete assumindo. Mas espera aí, é um BMW! O dono tem dinheiro e ninguém sai com um carro desses sem seguro. “Essa batidinha não será nada para ele, mas para mim…”.

– Já é tarde e você vai pegar o metrô. Ninguém por perto. Por que não saltar a roleta e viajar sem pagar? O Metrô não vai quebrar por isso. Por que não saltar a roleta?

Há uma infinidade de situações em que o interesse individual se choca com o coletivo. No caso do BMW, o seguro paga e repassa o custo para o que cobra dos demais; você penaliza gente que nada tem a ver com seu descuido. O caso do metrô é igual – engrossando as estatísticas dos que não pagam, você contribui para o aumento das
passagens de quem paga.

É a situação exata do “amigo trambiqueiro do restaurante” só que os efeitos envolvem muito mais gente. Satisfazer o interesse individual agindo de uma forma que, se todos imitam, é catastrófica para todos, constrói um dilema universal.

Talvez se possa dizer que lugares civilizados são os que conseguem contornar esse impulso.

Comece a pensar nos custos da saúde. Comece a pensar na tragédia que é o Brasil atual. Nos próximos posts chegaremos lá, ou melhor, aqui.

 

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