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O cara que mediu o início do universo

arno-penzias

Um dos físicos que ganharam o Prêmio Nobel anunciado ontem, completa o trabalho de outros físicos sobre a origem do universo. Um deles é o cara da foto – outro Prêmio Nobel que “mediu” a origem do universo ocorrida há bilhões de anos.

 Arno Penzias esteve na AMIL em 1997, e eu o ciceroneei. Ele até me deu um de seus livros e fez uma carta de agradecimento. Veja a carta. Conto a história a seguir.

carta-arno

A história é a seguinte.

Nosso universo explodiu para a existência há 13.68 bilhões de anos. O momento inicial foi uma explosão – o “Big-Bang”- que marca o início de tudo.

Antes do Big Bang não havia nada – nem espaço nem tempo. Não existia “antes”. A aventura humana tornou-se possível bilhões de anos depois, porque uma série de processos aconteceu naquele começo, de forma tal, e através de um balanço tão delicado, que abriu pelo menos um “nicho especial” no cosmos -

…nicho que acabou sendo ocupado por seres que viriam a aparecer um dia, e que só apareceram porque o tal nicho era do jeito que tinha que ser para que eles pudessem aparecer. Claro, é um raciocínio meio circular tipo “a galinha só existe poque existiu um ovo que veio de uma galinha que…”. Bem… Bem…

Apesar das primeiras coisas vivas só terem surgido vários bilhões de anos depois, elas já “estavam escritas” no “Big-Bang” de alguma forma; ou melhor: as condições para que viessem a aparecer já estavam programadas.

Organismos capazes de coletar e utilizar informação que estivesse “solta” no ambiente, pronta para ser capturada por entidades que se alimentassem dela. Devoradores de informação (análogos a carnívoros e herbívoros) . “Informávoros”, como alguns chamam.
Nós?

Bem, não necessariamente nós, mas coletadores e processadores de informação de algum tipo apareceriam em algum momento, desde que as possibilidades de embaralhamento do grande baralho cósmico tivessem sido experimentadas. Aí então surgiria algo de fato… interessante.

Foram necessários uns 9 bilhões de anos para que o carteado cósmico produzisse a vida, e cigana nenhuma teria previsto o arranjo das cartas que surgiram sobre a mesa.

Na década de 1920, um astrônomo americano chamado Edwin Hubble mostrou que as galáxias do universo estão se fastando umas das outras com velocidades enormes. O universo está se expandindo, e a velocidade das estrelas em fuga não deixa que elas “caiam”(mais ou menos como andar de bicicleta: só cai se parar).

Se trouxermos para trás as trajetórias das galáxias em fuga que observamos hoje, vamos chegar a um ponto em que se cruzam. As estrelas estavam juntas no início! Grudadas. Fundidas. Não num ovo, ou numa bolinha, mas num ponto sem dimensões, sem superfície, sem massa.

Esse ponto do qual tudo se originou é uma abstração que os físicos chamam de “singularidade”. No começo não era o verbo, era a singularidade. Não tente visualizá-la. Aceite que isso é a forma que matemáticos e físicos têm para falar de uma circunstância antes da qual não havia… antes. É abstrato, mas é isso. Foi o momento do “Big-Bang”.

Na década de 60, dois físicos captaram com uma super-antena (que estavam usando para outra coisa) um tipo de sinal que não conseguiam explicar- um ruído de fundo que aparecia uniformemente em todas as direções do espaço. Estudando as características daquilo, chegaram exatamente ao valor que a radiação liberada no “Big-Bang” teria que ter tido (segundo os melhores cálculos dos cosmologistas). Eles foram cautelosos. Não quiseram se apressar em anunciar ao mundo que estavam detectando o “Big-Bang”, e trataram de eliminar todas as possibilidades de erro antes de fazer o anúncio. Como havia ninhos de pombo na antena, ela estava bem suja de alguma coisa que um deles chamou de “material esbranquiçado de grande poder dielétrico”, que é uma maneira sofisticada de dizer “cocô de pombo”. Um deles chegou a comentar:

“Ou nós estamos detectando a origem do universo, ou o efeito de um monte de cocô de pombo na antena”.

A antena foi limpa e as medições refeitas.

Era a origem do universo mesmo! Os dois estavam captando um resto do sopro de calor que tinha se originado no “Big-Bang”. Tinha havido de fato uma explosão inicial.

 

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