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A verdadeira genialidade de Edson – o marqueteiro que criou um ecossistema (final)

ecossistema

Por que devemos nos preocupar se Edison inventou a lâmpada como um gênio solitário ou como parte de uma rede ampla? Para começar, se a invenção da lâmpada é o modelo de como novas tecnologias passam a existir, devemos contar a história verdadeira. Mas é mais que isso, porque há implicações sociais e políticas nesses tipos de histórias. Se um dos principais impulsionadores do progresso e dos padrões de vida é a inovação tecnológica, devemos incentivar as tendências que nos levam a ser mais produtivos como pessoas e como sociedade.

Se pensarmos que a inovação vem de um gênio que inventa uma nova tecnologia a partir do zero, isto nos leva em direção a certas decisões, como p.ex. forte proteção a patentes – mas se pensarmos que a inovação vem de redes de colaboração, então devemos apoiar diferentes políticas e formas de organização: leis menos rígidas de patentes, padrões abertos (open standards), participação dos empregados via ações, conexões interdisciplinares. A luz que vem da lâmpada brilha em mais de um sentido- ela nos ajuda a ver mais claramente a forma pela qual novas ideias passam a existir no mundo real.

Eis o fim da história.

Edison era bom em relações públicas. Vivia se promovendo –(diz-se que uma vez deu ações de sua empresa a um jornalista em troca de cobertura favorável). Era também um mestre do que hoje chamaríamos de “vaporware”: anunciava produtos inexistentes só para assustar os concorrentes.

Alguns meses depois de ter começado a trabalhar na lâmpada elétrica, ele disse a repórteres de Nova York que o problema estava equacionado, e que ele estava à beira de lançar um sistema nacional que era “mágico”. Um sistema tão simples, em suas palavras, “um engraxate o entenderia”. Apesar dessa bravata, os protótipos de lâmpadas elétricas naquele momento não duravam mais de 5 minutos, o que não o impediu de convocar a imprensa para o laboratório de Menlo Park para ver sua lâmpada revolucionária. Ele chamava um repórter de cada vez, ligava o interruptor de uma lâmpada deixando-o desfrutar da luz por três ou quatro minutos, e então o conduzia para fora da sala usando um pretexto qualquer. Quando perguntavam quanto tempo suas lâmpadas durariam, respondia com confiança: “Para sempre, praticamente”.

Mas não adianta ser bom de marketing se você não tem produto para entregar (certo, João Santana?). Com toda bravata, Edison e sua equipe realmente criaram algo revolucionário. Os componentes de seu sucesso fazem parte do menu de características que você encontra em quase tudo que dá certo em inovação hoje.

Exemplo: a equipe que ele havia reunido em Menlo Park, conhecida os “muckers” (homens toscos/brucutus), era muito diversificada em termos de experiência profissional e de nacionalidade. O mecânico britânico Charles Batchelor, o mecânico suíço John Kruesi, o físico e matemático Francis Upton, e uma dúzia de outros designers, químicos e metalúrgicos.

Como a lâmpada de Edson não era uma invenção só, mas uma bricolagem de pequenas melhorias, a diversidade da equipe revelou-se uma vantagem essencial. Resolver o problema do filamento por exemplo, exigiu uma compreensão científica da resistência elétrica e da oxidação que Upton tinha, e Edison não; foram as improvisações mecânicas de Batchelor que lhes permitiram testar muitos candidatos diferentes para o filamento até chegar ao definitivo- um filamento de bambu carbonizado.

Menlo Park marcou o início do time colaborativo interdisciplinar. As ideais e tecnologias transformadoras que saíram mais tarde de lugares como os mitológicos Bell Labs e Xerox PARC-têm suas raízes ali. Edson não inventou a tecnologia simplesmente; ele inventou um sistema para inventar. Um sistema que viria a ser dominante no século XX.

Com ele inaugurou-se outra tradição que se tornaria vital para a inovação em alta tecnologia: pagar aos empregados com ações da empresa. Em 1879, na fase mais frenética das pesquisas, ofereceu a Upton cinco por cento da Edison Electric Light Company, para que ele renunciasse a seu salário de US $ 600 por ano. No final daquele ano o valor suas ações de Upton já valiam US $ 10.000-mais de um milhão de dólares em dinheiro de hoje.

A genialidade de Edson foi de outro tipo. Sua maior realização pode ter sido sua maneira de montar equipes criativas: coordenar diversas habilidades em um ambiente que valorizava a experimentação e aceitava o fracasso. Incentivando o grupo com recompensas financeiras que estavam alinhadas com o sucesso global da organização, e a apropriação de ideias originadas em outros lugares. “Não estou impressionado com os grandes nomes e reputações daqueles que podem estar tentando bater-me numa invenção… são as ideias deles que me interessam.. sou muito mais uma esponja [absorvedora de ideias] que um inventor.”

A lâmpada elétrica como artefato de engenharia foi o resultado do que chamamos hoje de inovação em rede, mas a verdadeira vitória de Edison não veio com o filamento incandescente de bambu dentro de uma ampola em que se fazia vácuo; veio com a iluminação do distrito inteiro de Pearl Street, dois anos depois. Para que uma coisa dessas fosse possível você precisava de lâmpadas, claro, mas também precisava de uma fonte confiável de corrente elétrica, de um sistema de distribuição que a fizesse fluir através de um bairro, um mecanismo para ligar lâmpadas individuais na rede, e um medidor para medir a quantidade de eletricidade que cada domicílio utilizava. Uma lâmpada por si só é uma curiosidade- algo para deslumbrar repórteres. O que Edison e os muckers criaram foi muito maior: foi uma rede de múltiplas inovações, todas ligadas entre si para fazer a magia da luz elétrica tornar-se segura e acessível. Eles criaram um ecossistema.

Adaptado livremente do livro “How we Got to Now” de Steven Johnson

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