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Por que o Brasil é ruim de inovação?

Brasil-Inovação

Em 2007 fiz uma matéria que foi capa na ÉPOCA NEGÓCIOS. O título era o deste post. Os jornais de hoje (30.05.2013) noticiaram que o Brasil despencou no ranking mundial de competitividade, ou seja, seis anos depois, estamos piores. Competitividade tem a ver com gestão. Inovação também. Releia abaixo um trecho adaptado do meu ensaio de 2007. A versão completa está AQUI.

Se quiséssemos projetar um país inovador do zero, por onde deveríamos começar?

-O nível de inovação de um país depende de um certo tipo de software. Todo grupo humano- seja um país, seja uma empresa – tem um sistema operacional que define o que o grupo pode de fazer. Que características tem de ter o sistema operacional de um país para que ele seja capaz de inovar? A lista que compilei tem elementos que estão presentes em lugares tão diferentes como Suécia, Japão e Estados Unidos, por exemplo. Como Tolstoi poderia ter dito, os países inovadores são ricos de maneira muito semelhante – têm sistemas operacionais que geram os mesmos efeitos. Países não inovadores, porém, são pobres cada um à sua maneira. Seus sistemas operacionais “dão pau” cada um do seu jeito.

Inovação é uma propriedade emergente. Quer dizer o seguinte: num grupo (pessoas, empresas, países), ela é algo que emerge- brota- quando existem certos encaixes entre vários elementos diferentes. Podemos categorizar esses elementos em 10 itens básicos. O conto dos países inovadores tem 10 capítulos.Veja quais são.

O conto dos países inovadores

1. Nos países inovadores há um alto nível de confiança nas relações entre os indivíduos. Cooperação com base em reciprocidade é a norma mais arraigada nas relações sociais. Reciprocidade quer dizer: eu recebo proporcionalmente ao que dou. Alguém receber algo a que não faz jus não é tolerado, e não receber o que é justo em troca de uma contribuição legítima, também não é.

2. Num país inovador a informação flui livremente. Há liberdade de comerciar e mercados livres. Mercados (regulados e controlados sempre que necessário) são essenciais. O que o colapso da Enron mostrou, foi que uma empresa pode até enganar seus reguladores, seus contadores, seus fornecedores, mas não pode enganar o mercado. Ou ela dá um jeito de ganhar mais do que gasta ou vai desaparecer. Ela pode convencer seus financiadores a mantê-la à tona por um tempo, mas vai acabar afundando.

3.Não há país inovador isolado do mundo. A energia empreendedora precisa de fronteiras abertas e estímulo para trocas e transações. Mas o mundo só vai confiar em você se você se provar confiável. A riqueza depende de reciprocidade.

4.O que garante o funcionamento do sistema operacional de países inovadores é a regra da lei (the rule of law). Um aparato jurídico que cuida para que as normas de convivência entre pessoas e instituições sejam seguidas por todos. A corrupção é mantida em níveis mínimos.

5.Em países inovadores, é legítimo e bom acumular posses individuais. O que é seu é seu. Direito à propriedade/ respeito à patentes é fundamental para induzir o investimento e a aceitação do risco por parte de pessoas e empresas. Mas países inovadores também penalizam fortemente os efeitos deletérios que a iniciativa individual possa trazer. Não se admite nem pegar carona no esforço dos outros nem agir de forma a arriscar terceiros. Pirataria é crime sério. O início da reforma que está levando ao “capitalismo” chinês foi assim-os chineses passaram a ter direito de vender suas colheitas a quem pagasse mais.

6.Países inovadores têm uma ética de trabalho arraigada, uma crença em melhorar de vida graças ao esforço pessoal. Meritocracia. A crença que a recompensa virá pelo esforço que cada indivíduo coloca nesse investimento. É assim que pensam as novas gerações de hindus e chineses que trabalham e estudam 15 horas por dia, sete dias por semana, ganhando muito pouco hoje, mas preparando-se para tomar conta do mundo amanhã.

7.Em países inovadores a mentalidade “soma não zero” permeia toda a sociedade. Essa é uma norma cultural que diz que o bolo que existe hoje poderá crescer se houver colaboração. Minha vitória pessoal não se dá ás custas da derrota de outro. A mentalidade oposta, ”soma zero”, diz que o melhor é garantir logo sua fatia do bolo, antes que outro o faça. Não há visão de destino compartilhado, ganha quem tirar mais para si.

8.Países inovadores valorizam a mentalidade científica e a racionalidade na busca de soluções; sociedades pobres tendem a abraçar o oculto e o mágico. Nessas,o religioso e o político se misturam. Acham que seu destino depende de salvadores messiânicos, ou da boa vontade dos deuses, não de seus esforços pessoais.

9.Países inovadores têm lideranças mais pragmáticas, e menos ideológicas, que não hesitam em assumir posições impopulares para fazer o que deve ser feito. Países pobres têm versões diferentes daquilo que os antropólogos chamam de Big Men- lideranças truculentas que se impõe pela força, ou então populistas e carismáticos que manipulam a fraqueza e ignorância das multidões. Big Men se especializam em conchavos com grupos de interesse diversos, e seu objetivo único é ficar no poder (precisa de exemplos?).

10.Finalmente, nas sociedades inovadoras há competição livre e um viés forte para experimentar e aprender com a experiência- uma forma saudável de se lidar com o erro. Sociedades não inovadoras tendem a se apegar ao certo, ao sem risco, ao garantido.

Leia o ensaio completo AQUI

 

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