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O fim da intuição?

Livro recém lançado diz que sim. Vai dar o que falar.

Aos pouquinhos, está acontecendo. Tirando as vitórias sobre os grandes mestres do xadrez, computadores que humilham pessoas tem sido ficção. Não mais. Algoritmos e regras estatísticas estão passando a perna em especialistas em vários campos. Se você preza seu saber, cuidado! Pode haver um algoritmo à sua espreita. Experts em prever a qualidade de safras de vinho, têm sido derrotados por eles. Produtores de cinema têm levado surras ao estimar a bilheteria de novos lançamentos (e já consultam uma empresa chamada Epagogix.com para mudar roteiros e prever receitas). Técnicos avaliam jogadores sem nunca os terem visto jogar. Cassinos prevêem direitinho quanto dinheiro podem tomar de certo cliente antes que ele pare de jogar. Está ficando forte demais para ser ignorado.

O uso de modelos estatísticos já revoluciona o marketing, as políticas públicas e a indústria do cinema

O nome da coisa é “decisão com base em evidência”. O Google é sobre isso. A capacidade de fazer experimentos processando informações sobre o comportamento real dos consumidores, fez do Google uma agência de propaganda “matemática”. É isso o que ele é. O que dizer num anúncio de cerveja – “ Melhor sabor ” ou “ Menos ressaca ”? Teste os dois no Google. O sistema alterna os anúncios e seleciona (automaticamente) aquele em que o pessoal clica mais. Chega daquelas teorias malucas sobre o “percurso do olhar” de uma pessoa observando um anúncio impresso (“primeiro ela olha para o canto superior direito, depois desce em diagonal…”). Eu hein! Não é melhor ficar com o que funciona? Os médicos vão espernear, mas terão de encarar: computadores podem diagnosticar doenças melhor do que eles. Medicina baseada em evidência. É só haver um banco de dados (com muitos dados) para que o algoritmo descubra padrões que especialista algum consegue.

Um livro, ainda não publicado no Brasil, é a melhor fonte sobre essa tendência – ”Super Crunchers”, de Ian Ayres (Bantan Books, 2007). O autor queria chamá-lo “O fim da intuição”, mas mudou de idéia depois que uma campanha no Google AdWords constatou que “Super Crunchers” gerou 63 % mais cliques. O que funcionaria melhor: um programa tipo “bolsa família” que embutisse, de início, algumas exigências (contrapartidas) ou simples distribuição de dinheiro? O programa Progresa / Oportunidades no México, foi testado em 506 aldeias selecionadas aleatoriamente com e sem contrapartidas. Os resultados foram tão convincentes que o programa (com contrapartidas) foi estendido para todo o país. Política pública baseada em evidência.

Ayres prevê o sumiço de várias profissões baseadas em opinião de experts. Lembra do avaliador de empréstimo bancário? Um dia ele já foi bem pago. Sumiu. Foi substituído por operadores de call center que repetem scrpits sugeridos por computador. Professores, sua presença é necessária para engajar os alunos no processo de aprender, mas seu julgamento não é. Crianças aprendendo a ler, por exemplo, os melhores resultados vêm de lições codificadas passo a passo; timing de atividades estabelecido e validado por testes aleatórios. Alfabetização baseada em evidência. Vamos gostar de viver nesse mundo? Não sei, mas é bom se preparar. Chegou.

* Artigo publicado na Revista Época Negócios – Nº 9 – Novembro 2007 – Coluna INOVAÇÃO.

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