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Clemente Nobrega Comentários de maio – A geografia é que decide(23/05/2011)

Minha coluna na ÉPOCA NEGÓCIOS de maio

“Quando se observa a inovação na escala dos milênios-não séculos,ou décadas – não se nota indivíduos- não há Steve Jobs, Einstein ou Thomas Edson-o que há é um processo impessoal definido por um único fator-a geografia.Essa é a tese de Ian Morris, scholar da universidade de Stanford em-“Why the West Rules for now”- um mergulho fundo nos”padrões da história” para vislumbrar o quadro do que poderá ser o futuro.

Eis a idéia:quando a idade do gelo acabou e o planeta começou a esquentar(há 15.000 anos), a geografia determinou que apenas poucas regiões poderiam desenvolver sociedades complexas,pois poucas tinham clima e vegetação adequados à domesticação de plantas e animais. Surgindo onde hoje é o Iraque (oeste da Eurásia),a agricultura apareceu também em outros lugares-China,México- mas, como plantas e animais domesticáveis eram menos comuns nesses lugares, o processo por lá começou milhares de anos depois. A Eurásia produziu as primeiras cidades, países e impérios e, no milênio 1 antes de Cristo, época de Sócrates,Buda e Confúcio, ainda era a parte mais rica do mundo.Mas algo ia ficando claro: se “geografia” determina como sociedades se desenvolvem,elas, sociedades,ao se desenvolverem, redefinem o significado de geografia.

Veja:no início, ter temperatura, regime de chuvas, e topografia certas, decidia tudo;mas, aldeias viravam cidades e a “geografia” importante passava a ser “estar perto de um rio” (o Nilo,p.ex),o que tornava a irrigação possível.Depois,cidades viravam estados e impérios, e estar perto de um rio tornava-se menos importante do que ter acesso a mares navegáveis-o Mediterrâneo possibilitou a Roma mover alimento, exércitos e coletar impostos mundo a fora. Impérios, expandindo-se, mudam o significado de geografia de novo.Quando não se podia atravessar oceanos, não importava que a distância da Europa às Americas fosse metade da distância da China até lá. Mas, inovações em navegação posibilitaram que os europeus-que só tinham de percorrer metade da distância- descobrissem,saqueassem e colonizassem as Américas antes dos chineses,que eram os melhores velejadores do mundo.É a geografia que molda o destino, não pessoas.”Maps, not chaps”,repete Ian Morris. Eis seu teorema:”mudança é causada pela preguiça, ambição e medo de pessoas que buscam maneiras mais lucrativas e seguras de se fazer as coisas.Elas reagem pressionadas por necessidades induzidas por mudanças em suas “geografias”, e raramente sabem o que estão fazendo”. Morris prevê que ocidente e oriente estarão empatados por volta de 2050. Nosso destino a partir daí ,ou será compartilhado ou será um caos. Nenhum lado poderá “vencer”.Só haverá “salvação” via expansão de tecnologias coletivas. A alternativa é o que ele chama de “nightfall”- o colapso. Estamos nos aproximando de outro ponto limite, como tantas vezes já ocorreu na história. Se nossos antepassado reagiam à novas “geografias” sem saber o que faziam,nós temos a vantagem de saber e interferir se quisermos. E olha:só temos a opção de querer.

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