Nossa concepção de hospital não muda
Nossa concepção de “hospital”não muda desde o século dezoito. Falo do conceito, não do conteúdo.
Hospital – hoje, como ontem – é um lugar para onde a gente vai quando nossas condições de saúde ficam “agudas” e pedem intervenção de especialistas. Quanto mais hospitais, mais evidência de que a saúde está no caminho errado.
Indicação positiva seria a oposta – hospitais deveriam estar ficando obsoletos, como o filme Kodak, como a máquina de escrever. Se tivesse ocorrido o mesmo com a noção de “fazer compras”, ainda estaríamos indo a empórios onde atendentes de balcão nos recomendariam o melhor sabão, a melhor carne, a melhor roupa. Se nossa concepção de “fotografia” não tivesse mudado, ainda precisaríamos do “lambe-lambe”- coisa que os leitores certamente nem sabem o que é.
Só dois setores da economia mantém suas concepções básicas do século 19: educação e saúde, justamente os dois onde a produtividade aumenta menos.
Não existe empreendedorismo em saúde. Não existem marcas nacionais (muito menos globais) em saúde. Quem enriquece com saúde não são os que criam novos conceitos como os Jeff Bezos, os Sam Walton.
Em minha palestra sobre a “Sustentabilidade do Hospital”- procurei mostrar por que isso é assim e qual é a saída.
Na história de produtos e serviços não há inovação que não tenha sido legitimada por usuários. Inovação é o que o mercado diz que é, não o governo, a imprensa ou formadores de opinião. Por isso a Kodak quebrou, táxis vão sumir, a IBM teve uma “experiência perto da morte” nos anos 90, a Xerox perdeu a relevância. Não há exceção. Inovação não é fazer melhor o mesmo – não é substituir quadro negro e giz por projetor multimídia – é propor outro modelo.
O hospital só ficará obsoleto quando optarmos por outra coisa. A inovação que ocorre, “martela” tecnologias num modelo de hospital do século XIX; preços sobem em vez de cair, mas a inovação que tornaria o hospital obsoleto seria algo que nos fizesse necessitar menos dele.
O que faria o cliente forçar a obsolescência do hospital? Resposta: prevenção em larga escala; cuidado primário. Sabe quanto de capital de risco investiram em saúde nos EUA (meca do empreendedorismo) entre 2000 e 2016? 200 bilhões de dólares. Sabe quanto desse total se destinou à iniciativas em prevenção? Menos de 1%.
O hospital não sairá do cenário enquanto “prevenção” não se tornar “bom negócio”. A verdade é que ela hoje não é, e você sabe por que: o consumidor de saúde pode até dizer o contrário, mas não age em correspondência.