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Dinheiro é como sexo, sem superego vira perversão. Ou: o capitalismo tira mesmo dos pobres?

capitalismo

No auge da crise financeira de 2008, Lula deu uma declaração contra os especuladores “louros de olhos azuis” que a teriam fabricado (ah… se alguém se referir a algum grupo como “aqueles negões de cabelo duro”, mas deixa isso pra lá).

Celebridades daqui e de fora entraram na onda. Só dava ”cassino-especulação-ganância-vamos-refundar-o-capitalismo-viva-o-estado-abaixo-o-mercado”. Lula até criou a imagem de um “ovo sem gema” para ilustrar seu desapreço pelo “mercado”. Agora, o fenômeno Thomas Picketty (ver meus posts anteriores) traz de volta um mau humor anticapitalista/antimercado que vive procurando qualquer sinal de fumaça para sair gritando “fogo! fogo! Fujam! Incêndio na floresta!!”.

É um fenômeno antigo. Até Einstein entrou nessa.

Em 1949, num artigo intitulado “Por que o socialismo?”, ele escreveu: “A anarquia econômica da sociedade capitalista […] é, em minha opinião, a verdadeira fonte do mal”. Einstein achava que os mercados geram crise, instabilidade e empobrecimento. A única maneira de eliminar esses males, segundo ele, seria estabelecer o socialismo – os meios de produção seriam propriedade da sociedade. Uma economia planejada iria ajustar a produção de bens e serviços às necessidades das pessoas, e distribuiria o trabalho que precisasse ser feito entre aqueles em condições de fazê-lo. Com isso, ele pensava, se garantiria o sustento de todos os homens, mulheres e crianças. Cada um segundo suas possibilidades. A cada um de acordo com suas necessidades. Bonito, mas errado. Gênios da Física só são bons em coisas mais simples, como a Teoria da Relatividade ou a Física Quântica – as tentativas de seguir o conselho de Einstein deram no que deram.

Olhemos os fatos.

Nos últimos 100 , a renda per capita no mundo industrializado aumentou umas 9 vezes. O século XX foi um milagre; tudo melhorou. Houve um salto em saúde e longevidade (livrando-nos de doenças; diminuindo a dor). Padrões de consumo explodiram, mortalidade infantil despencou; ganhos que não foram só da “elite” não, mas de todos. Os pobres de hoje, vivem melhor do que qualquer humano em épocas passadas. A força motriz disso foi o capitalismo. Capitalismo produtivo é o de empreendedores que inovam, criam empresas que crescem e introduzem tecnologias que habilitam fazer “mais com menos”.

O “mercado do dinheiro” existe para financiar isso, e deve ser tratado com mão de ferro se desvia dessa função (o que previsivelmente fará sempre que for deixado solto. Dinheiro é como sexo: sem superego vira perversão). Mas por que essa máquina de inovar – o “livre mercado” – tardou tanto a surgir? É que a energia empreendedora sempre foi canalizada para atividades não produtivas. O capitalismo empreendedor superou precisamente aquilo que todos combatem combatemos (eu, você, Picketty, e a torcida do Flamengo): formas improdutivas de enriquecer.

Antes, para satisfazer o instinto (humano) de acumular posses, era mais lógico roubar. Sim, tirar de alguém, e era isso que se fazia. O mundo, só há uns 200 anos entendeu que as relações numa sociedade não têm que ser (e não são) “soma zero”. Eu não tenho de tirar de alguém para ganhar. Todos podem ganhar.

A noção de que eu, com meu esforço pessoal, correndo riscos e usando a imaginação, posso ficar rico (mesmo que tenha nascido pobre) é novíssima na história. Agora, se ”fazer mais com menos” é uma ótima ideia, é também cronicamente parasitada por um vírus que é “ganhar dinheiro com dinheiro” ou via alguma outra forma improdutiva, que chamam, coletivamente, de “rentismo”.

O “banqueiro” é um meio para viabilizar o empreendedor. O advogado também é. Sem a regra da lei (direito à propriedade, garantia de contratos etc), os progressos que citei não teriam ocorrido. Mas note que nem o advogado nem o banqueiro criam riqueza, criam “apenas” o contexto que permite que o empreendedor surja. A imagem do ovo que Lula usou, não é de todo má. A “casca” é a regra da lei, o mercado de capitais (regulado), a punição da corrupção (opa!), as regras anticonluio, antitruste… Essas coisinhas criadas… Bem… Criadas pelo capitalismo. Não é interessante?

Capitalismo é como sexo – cheio de possibilidades de perversões – mas as instituições da democracia têm sido perfeitamente adequadas para domá-las. Por que deixariam de ser? Por que Picketty quer?

O que gera prosperidade, a gema do ovo, é o empreendedor. As instituições da democracia de livre mercado cuidam para que a casca não tenha rachaduras. É para isso que existem. A gema só se formará depois que uma casca sólida estiver no lugar.

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