A Física das organizações humanas – como a ciência pode direcionar a inovação no mundo corporativo.
O texto a seguir foi extraído de meu novo livro que acaba de sair. Clique e confira.
Gestão existe porque nada fica organizado espontaneamente. O natural – o que acontece sem intervenção – é a “não ordem”, a desorganização.
Empresas têm uma Física porque sua existência – como a de tudo mais – depende de fluxos de energia que organizem o que, naturalmente, seria desorganizado. Tudo o que existe de forma organizada é mantido organizado por fluxos de energia. Mas a Física diz também que quando uma forma de energia tenta realizar trabalho útil atuando para organizar, aparece sempre uma contra força – algo que atua para desorganizar o que se quer construir.
Nós chamamos esta contra força de entropia, e nada escapa à sua ação. Por isso, no longo prazo (inimaginavelmente longo) o que vai restar no universo é a desordem. É certo que um dia o universo inteiro vai acabar num “nada” irreversível em que não haverá distinção entre coisa alguma porque não haverá coisa alguma. Só o nada. A vitória final da entropia é uma certeza científica.
Entropia é um dos mais interessantes conceitos da Física, e é o que mais tem implicações práticas nas empresas. Ela garante que por mais talentosos que sejamos, a entropia sempre estará lá. A menos que… Bem, a menos que a organização se reorganize permanentemente, e formas novas de fazer as coisas estejam constantemente emergindo. A menos que a empresa se transmute. Inove permanentemente.
A criação do novo tem regras. A lei física da conservação da energia diz que nada vem do nada – tudo vem de transformações de algo que havia antes. Mas, para que se gere algo útil, tem que haver dispêndio de energia para construir as transformações certas e, em todo processo que busca construir algo útil, há sempre uma fração da energia que tem de ser perdida para sempre.
A entropia deprime e motiva. Deprime, porque a decadência, a irrelevância, a desordem inexoráveis – são matematicamente inevitáveis no longo prazo. Porém, no curto prazo (e em ambientes muito específicos) a “não ordem” é contornável, e a criatividade pode florescer. É por isso que existem girassóis, óvulos, bebês, arte, engenharia, poesia, tecnologia, estética… Todas essas coisas são manifestações que só são possíveis localmente e no curto prazo, pois só no curto prazo a entropia pode ser contornada.
Quando falo “localmente” quero dizer: em ambientes em que exista um tipo de interferência adequado para adiar o efeito da entropia ali. Gestão e inovação existem para tentar produzir vitórias (temporárias, nunca definitivas) sobre a entropia. A entropia sempre vence no final, mas o papel do gestor é adiar ao máximo essa fatalidade escrita nas leis da natureza desde o Big Bang.
– Como a entropia se manifesta nas empresas? Pode anotar: ela se manifesta (e vence) sempre que indivíduos ou subgrupos sobrepõem seus interesses individuais aos do grupo. Quando isso ocorre (e ocorre a toda hora, em todo lugar, porque essa tendência vem dos micromotivos que estão sempre espreitando para entrar em cena ao menor descuido do gestor), a empresa perde a capacidade de resolver problemas, e caminha para o fim.
Líderes são veículos para moldar o ambiente (a geografia!). Colapsos empresariais ocorrem sempre por causa de déficits de liderança que produzam a energia necessária para gerar trabalho útil no timing certo adiando assim a vitória da entropia.
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