Terremoto ou explosão de criatividade? Ou: estaremos chegando à “borda do caos”?
Autoridades dizem não entender o que está acontecendo. Aconselho se informarem sobre a ciência da complexidade. Há insights práticos formidáveis nela.
Podemos estar chegando a um estado que ela chama de “estado crítico” (ou edge of chaos-borda do caos). Nessa situação, as catástrofes/surpresas/efeitos inesperados, podem ocorrer pela adição de um único grão de areia…
A adição de um grão de areia a um monte pode:
a- Não ter nenhum efeito substancial…
b- Precipitar uma pequena avalanche…
c- Precipitar uma grande avalanche….
d- Precipitar um colapso catastrófico de toda a estrutura.
Na maioria das vezes, a avalanche é pequena (ver post anterior). Às vezes, porém.. ..
Não se pode saber o que ocorrerá, mas pode-se,sim, identificar e medir a ocorrência iminente de um estado crítico. Não há nada que uma autoridade ou especialista possa fazer além disso. É tolice ficar querendo botar a culpa na polícia, ou em outro agente. Corra que a avalanche vem aí..!
Um sistema é considerado em estado crítico quando está à beira de um evento radical.
Estados críticos, em vários tipos de sistemas, são onipresente em nosso mundo global. Pesquisadores descobriram impressões digitais (matemáticas) dele – estado crítico- em quase tudo que nos assusta: terremotos, desastres ecológicos, crises financeiras, disseminação de epidemias, incêndios em florestas, ..
No coração da coisa está a descoberta de que redes (de todos os tipos) – átomos, moléculas, espécies, pessoas e até mesmo ideias – têm uma tendência forte a organizar-se em moldes semelhantes.
Diferentes sistemas gravitam espontaneamente para “estados críticos”, em que um único pequeno acontecimento pode desencadear a catástrofe- um deslizamento microscópico ao numa falha, geológica, uma árvore que pega fogo após um raio, um único investidor que decide vender suas ações …
Se o sistema está no estado crítico, o tamanho do evento (se catastrófico ou não) não depende da gravidade do fato gerador. A maior das catástrofes pode não ter causas excepcionais. Cada avalanche, grande ou pequena, começa da mesma forma: um único grão cai e torna a pilha ligeiramente íngreme em um ponto. O que torna uma avalanche maior do que outra não tem nada a ver com a a causa original. Não é 20 centavos de aumento na passagem, entende? Eles podem dizer que é,mas não é.. Resolva os 20 centavos, e o sistema continuará pacientemente na “borda do caos”, esperando outro “grão de areia”….
O tamanho de um evento-se catastrófico ou não- depende da história do sistema. O estado crítico é hiper-sensível a “acidentes congelados” (frozen accidents) como dizem, que determinam se ele se tornará grande ou pequeno. Acidente congelado é o grão de areia que leva ao caos.
Lembre-se, um acidente congelado não depende de quão grande é o grão que cai, depende do estado em que o sistema está.
Depois que a pilha evoluiu para a borda do caos, muitos grãos ficam na iminência de deslizar.Esses grãos ligam-se em “dedos de instabilidade ” (instability fingers) de vários comprimentos. Muitos são curtos, outros percorrem a pilha de uma extremidade à outra. A reação em cadeia provocada por um grão pode levar a uma avalanche de qualquer tamanho, dependendo de o grão adicional cair num dedo curto de instabilidade, num intermediário, ou num longo.
Deixamos o sistema Brasil chegar ao estado crítico. Precisamos desesperadamente de líderes que entendam isso.
Citando Nassim Taleb, nessas situações “a diferença entre o que você sabe e o que você acha que sabe, é sempre perigosamente grande”.
Obs: o termo edge of chaos é usado também para identificar a iminência de alguma explosão que pode ser até de criatividade. É sempre algo radicalmente diferente do que havia antes. No caso das manifestações brasileiras ,você julga ..Eu tenho minha opinião.