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Supermentes Do Big Bang à era digital

Ao longo do tempo, em cada estágio em que isso ocorreu, tudo o que era familiar adquiriu outra personalidade e se transfigurou. Outro senso de realidade se instaurou.

É assim, literalmente, desde que o tempo brotou do ventre da explosão que deu origem ao universo e liberou o instinto da comunicação.

À medida que a comunicação fica mais abundante, mais intensa, mais rápida, mais precisa, a mente passa a ser estimulada de outros modos. Surgem mil variantes novas para a expressão humana e, entre tantas mudanças, também mudam as formas de se comerciar.

O marketing muda porque a mente muda. Comunicação sempre foi, e sempre será, a alma do negócio, em todos os sentidos. Para mim, ela é sim um instinto, uma força quase sobrenatural. Uma força mística, se você quiser.

A globalização – o fenômeno central do nosso tempo – é, basicamente, motivada pelo instinto de comerciar que a comunicação planta nos humanos. Só que agora – sem barreiras graças à tecnologia – esse instinto deixa de ser local e invade o mundo todo.

Capital, idéias, tecnologias chispam pelo globo terrestre. Não lute contra o instinto supremo, leitor. Ninguém é capaz de vencê-lo. Pode ter certeza: quando o instinto de comerciar encontra novas brechas para se manifestar, ele se manifesta. É possível detê-lo, mas o que resulta do emparedamento da comunicação sempre é medíocre.

As pessoas chamam de marketing a essa atividade comercial que tem a ver com “quer comprar meu produto?”. A Internet é, entre outras coisas – um novo espaço para exercitar isso – um meio de expressão novo/diferente para o mesmo instinto. Um espaço não físico. Não é marketplace, é marketspace. Um espaço onde todas as formas estabelecidas de transação/comunicação ficam livres para experimentar novas variantes.

A agricultura, a impressão, a roda, a estrada de ferro, o telégrafo, o telefone… As tecnologias realmente relevantes, são sempre ferramentas que abrem os caminhos que nos possibilitam fugir da tirania e da limitação do lugar físico, lançando-nos para outras dimensões da imaginação.

Mas esse não é um livro sobre metáforas ou simbologias. É prático. Vai lhe dar dicas que o ajudarão a agir melhor.

Para agir produtivamente hoje, você tem, primeiro, de entender a paisagem que nos cerca. Tudo o que está ocorrendo tem uma única origem: comunicação mais livre do que nunca. Liberada, sem amarras. É isso que, por abrir um oceano de possibilidades novas e radicais, muda a economia e a vida. É como sempre foi: muda a empresa, porque mudam as pessoas; as pessoas mudam porque mudam suas percepções do mundo. Nada fica sem se reconfigurar. É como sempre foi, mas é diferente, entende?

Minha tese é: a melhor maneira de se preparar para agir, não é tentar adivinhar o que vem pela frente, é olhar para trás. É perceber a dinâmica que nos trouxe aqui, e aprender com ela.

Nosso agir no mundo (isto é: nossas relações, nossas organizações, nossas transações, nossa economia) é – desde sempre – o emergir sucessivo de enredos novos de dentro de enredos anteriores, que assim vão se expandindo para novas dimensões.

A ânsia da comunicação por comunicar-se está sempre por trás de tudo.

Nesse sentido, nada é revolucionário – nem a globalização, nem a Internet.

Já aconteceram “análogos” antes, viabilizados por tecnologias como o telégrafo, a bússola e o “zero”. Sim, o zero – uma ferramenta da imaginação. Sem ele, um número, ou melhor, um conceito que não existe no mundo (só na mente), não teríamos chegado a nada do que nos acostumamos.

Inovação sempre foi, e sempre será, definida por formas novas de comunicação que começam a fluir quando alguma tecnologia torna isso possível. Tecnologias criando continuamente novas mentes.

A tecnologia que origina todas as demais é o tempo. Ele é a ferramenta que torna possível todos os demais artefatos, inclusive a mente humana e suas maquinações. A matéria-prima do marketing é a mente. Tudo sempre tem início com entidades pobres, banais.

Entes sem “mentes”. Coisas estúpidas e limitadas. A partir delas é que se formam super-entes, supermentes, cada vez mais complexas, sofisticadas e criativas.

O mundo globalizado é isso. A Internet também.

Vários estágios de “mentes” já emergiram ao longo dos quatro ou cinco bilhões de anos que a Terra tem. Da “mentezinha” das bactérias, que, mesmo sem sistema nervoso, aprenderam a comunicar-se trocando sinais químicos, até os organismos de muitas células. Daí para organismos com cérebros, graças a uma nova tecnologia – o nêuron; o fio fino com o qual se tece a comunicação entre as várias partes de um organismo. Pura tecnologia da informação. Daí, por meio de uma sucessão de muitos estágios, até nós, humanos, para a sociedade, o comércio, a empresa, a economia…

Outra tecnologia é a linguagem. A palavra falada foi viabilizada por um cérebro grande e complexo, cheio de possibilidades de comunicação. Talvez, a “necessidade” – ou melhor, a enorme vantagem que o falar confere – é que tenha levado o cérebro humano a ter ficado tão complexo, dizem alguns. A complexidade do cérebro humano, quase certamente, teve sua origem no instinto da comunicação também.

Depois da palavra falada, a palavra escrita. Manuscrita. Em seguida, a palavra impressa – comunicação para mais gente, mais longe.

Todas são tecnologias de superação da distância. Várias revoluções da informação já aconteceram no planeta Terra.

Novamente: cada nova mente é uma “supermente” em relação ao estágio anterior.

Resumindo

Supermentes acontecem quando a comunicação alcança um patamar diferente para se comunicar. Esse instinto nos trouxe ao mundo globalizado, e nos levará adiante, pós-globalização; pós-internet.

O que torna possível o aparecimento de comunicação cada vez mais sofisticada são as tecnologias. Uma tecnologia é o ferramental que serve de plataforma para o emergir de qualquer arranjo mais criativo, a partir de arranjos anteriores mais “estúpidos”.

A “tecnologia” que viabiliza a evolução é o tempo.

O “momento” mais interessante nesse processo de evolução ocorreu quando surgiu a mente humana. Depois que a tecnologia do natural, engendrada pelo tempo, gerou os humanos, estes passaram a criar novas tecnologias e, com isso, a interferir ativamente com o processo que os tinha produzido.

Essa é nossa aventura, nossa glória e nossa miséria: nós dependemos de nós.

O DNA é o resultado da tecnologia das leis da química. Os sistemas nervosos sofisticados são resultado de outra tecnologia: o nêuron. A família, a sociedade e a civilização são produto de outra: a agricultura. A globalização é produto da tecnologia da informação atuando sobre um instinto básico do ser humano: o instinto de comerciar.

Foi a mesma dinâmica que fez bactérias de uma célula só acabarem gerando organismos multicelulares, depois sistemas nervosos, depois nós, humanos, nossas famílias, sociedades, empresas, mercados. Primeiro tudo funcionando isoladamente, depois se conectando, para formar coisas maiores, mais criativas, mais interessantes. Supermentes.

Então, entender o passado nos habilita a agir no presente e preparar o futuro; mas, atenção: não se trata nem de “bola de cristal”, nem, muito menos, de “tendências para o novo milênio”. Estou cheio dessas tais tendências. Quero é saber como fazer boas escolhas hoje. Não tenho interesse maior nas “implicações morais da clonagem”, nem nos problemas éticos de embriões humanos desenvolvidos em fêmeas de chimpanzés, muito menos nas maravilhas tecnológicas que estão chegando – como automóveis que reconhecem seus donos e conversam com eles (se eu já não gosto de conversa com motoristas de táxi tagarelas, por que haveria de querer papo com o táxi em si?).

Visões delirantes sobre o futuro existem aos montes, e me interessam pouco. Exemplo: a introdução do livro The One to One Enterprise, de Don Peppers e Martha Rogers, chama-se “A Camisinha Musical”. Lá se fala das engenhocas que logo habitarão nosso dia-a-dia de forma corriqueira: o par de óculos que responde quando você pergunta: “Onde, raios, deixei meus óculos?”, a chave do carro que emite um som e se identifica quando você pergunta onde ela está, e o tal preservativo que toca Beethoven quando fura em uso. Hmmm… deve ser a idade… eu posso imaginar alguma utilidade para óculos e chaves falantes, mas camisinhas tocando Beethoven? E logo quando furam? Eu, hein…

Todos já sabemos que o futuro pós-genoma mapeado será sensacional. Sabemos que as tecnologias de reconhecimento de voz, via chips baratos, serão uma banalidade corriqueira; que dominaremos doenças que hoje nos aterrorizam, viveremos mais, sofreremos menos… tudo isso, no futuro, claro. Mas, e hoje, gente?

Hoje, ninguém nos diz nada. O presente nunca é charmoso, o futuro (sempre idealizado, sem os medos de hoje, sem as aporrinhações de sempre) é que é bacana. Pagamos qualquer coisa para que nos falem do amanhã, porque o hoje…, bem, leitor, desculpe, mas o hoje é sempre uma damn shit. Delírios futuristas são perda de tempo. São curiosos, mas apenas distraem. Esqueça a camisinha musical.

Assim que ficamos livres (graças a Deus) daquela coisa de “virada de século-novo milênio-bug-2000-era-de-luz-etc.” constatamos que o primeiro dia do novo milênio chegou e passou, exatamente como todos os outros “primeiros-de-janeiro” antes. Portanto, voltemos ao trabalho. O filme que está passando chama-se De volta ao presente. Você é parte do enredo. Divirta-se.

A melhor maneira de se preparar para agir é perceber-se em fluxo, viajando para o futuro a partir de um passado que dá mesmo a impressão de ser radicalmente diferente, mas que, na verdade, foi só mais devagar. A aceleração é que acelerou.

Comunicação

Não falo de transmissão de mensagens, assim em abstrato. Não falo de “dados”. Estou falando do que apela à mente. Do que muda o status quo.

Comunicação que tem apelo à mente chama-se informação.

Economia é sobre isso. Empresa é sobre isso. Marketing é sobre isso. Desempenho humano é sobre isso. Os jogos da competição são sobre isso. Isso é o que há.

Mas tecnologia (atenção de novo!) não.

Tecnologia não é sobre isso. Tecnologia é a ferramenta que viabiliza a comunicação e, com ela, o salto da mente para outras dimensões. Tecnologia é habilitador.

A idéia mais sofisticada do século XX, para mim, não é a teoria quântica, nem a da relatividade – é a descoberta da informação, e do código que viabiliza a comunicação de maneira mais completa (mais humana, eu diria): o código digital.

Na segunda metade do século XX, descobrimos que o digital é que manda – tanto no DNA como na Internet. É poder à beça. Ninguém pode barganhar com o digital.

A linguagem digital – base para tecnologias radicais – é que nos força a reconceituar simplesmente… tudo.

Redefinimos até o jeitão físico de nossas empresas – chega de gente empilhada pelos andares das corporações. Empresas são mecanismos de coordenação de informação.

A melhor maneira de fazer isso, até hoje, foi ter gente-departamentos – perto uns dos outros – quase se tocando fisicamente. Agora não. A tecnologia permite que empresas, clientes e fornecedores se integrem num processo só, comunicando-se perfeitamente à distância. Processos que anteriormente eram antieconômicos, agora (graças a que mesmo?) não são mais. Tentáculos de fibra ótica, ondas eletromagnéticas viajando sem fio, chips de silício interconectados ligam o que antes funcionava isolado e, desse novo sistema nervoso, brota uma nova identidade.

Distância não significa mais impossibilidade. A comunicação contorna as barreiras.

Mas se ela, tecnologia, abre novos possíveis percursos, não nos ensina a percorrê-los.

A aventura humana ao longo da História é um delicado e sutil movimento de escolha – às vezes consciente, às vezes acidental – de quais avenidas percorrer, quando e como fazê-lo. Ninguém nem nada nos garante que escolheremos o “melhor”, entende?

Criamos tecnologia e ela nos recria. O medo das conseqüências dessa “recriação” é um medo humano. Estamos, hoje, viajando aceleradíssimos rumo a outra superdimensão.

Se, e quando, vamos chegar não sabemos. Há mil fatores que podem abortar a viagem, ou, pelo menos, atrasá-la bastante, o que seria uma pena pois, quando a comunicação é bloqueada, o resultado é sempre a mediocridade.

O máximo que podemos fazer é tentar entender.

Partir de um entendimento firme do ontem, para sintonizar-se com um amanhã que é, por natureza, imprevisível. Esse equilíbrio entre o ontem e o amanhã – entre o conhecido e o novo, entre o familiar e o surpreendente – é o requisito para o sucesso hoje. Como somos parte do processo, não há ponto de vista privilegiado para observá-lo de fora. Não há fora. Estamos viajando dentro do processo. Podemos percebê-lo, mas não entendê-lo em sua inteireza.

O amanhã é o que a comunicação sem barreiras está descortinando. É o sistema nervoso de fibras óticas, sinais digitais, viajando instantaneamente pelo mundo, sem fricção. Som, imagem, cheiro, cor, tato. Tudo super. Supercômodo. Supersensorial. Super-humano. Surpreendente. Supermente.

A aceleração está acelerando. Segure-se!

Não. Pensando bem, não. Solte-se e sintonize-se com ela.

Passado e futuro. Um pé lá, outro cá. Não caia, equilibre-se.

Esse equilíbrio não é mecânico – não há leis de Newton para defini-lo, portanto, não procure guias ou gurus para orientá-lo. Seu guru tem de ser você.

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