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INNOVATRIX-Clemente Nobrega

Quanto mais complexidade,mais energia é necessária. Por que optamos pelo complexo, e não pelo simples ?

Complexidade e energia

agric

Sobrevivência de pessoas e organizações requer energia nova para resolver problemas novos

Na fase pré-agricultura, a energia era capturada diretamente do sol por plantas e animais dos quais os humanos se alimentavam. Os bandos de então são o tipo de organização (máquina de resolver problemas) mais simples que jamais existiu, pois havendo energia em excesso, o custo de ficar vivo é baixo .

Naquela época, só havia três “problemas” a resolver- comer, dormir e copular- e nenhum dos três era desafiador, eram simples. Era uma vida boa (ótima). Pergunta: “se a vida era tão boa por que a abandonamos? Por que preferimos o complexo ao simples?”. É intrigante, mas tem resposta: nós abandonamos a vida simples porque não tivemos opção.

Essa mesma dinâmica ocorre com as empresas. Veja um relato possível de por que, no mundo inteiro, os humanos optaram por trocar uma vida simples e boa, por uma vida complexa e difícil.

Podemos imaginar algo assim há 20 mil anos atrás: a sobrevivência era tão fácil, que não havia nada a que se pudesse chamar trabalho. À medida que a era glacial se aproximava do fim, o clima esquentava, as manadas diminuíam e os caçadores eram obrigados  a se contentar com presas menores e menos carne. Para garantir seu acesso a um estoque de alimento que ia escasseando, alguns grupos começaram a proteger pequenas manadas de bisões, mantendo-as afastadas de predadores e de outros caçadores. No início, eles apenas seguiam as manadas onde elas fossem, mas, eventualmente, aprenderam a guiá-las entre os pastos disponíveis em cada época do ano. Para esses grupos, a domesticação dos animais substituiu a economia nômade dos caçadores-coletores.

Dez mil anos depois, essa brilhante adaptação a um meio ambiente que mudava, passava a exigir mais disciplina e planejamento, pois apenas a quantidade de animais que pudesse ser renovada a cada ano poderia ser sacrificada. Viver podia não ser sustentável. O futuro ficava incerto pela primeira vez. O mundo se tornara mais complexo.

A agricultura começou com a domesticação de animais, o que exigiu um tipo diferente de coesão, organização e colaboração entre pessoas. O preparo e o plantio do solo só vieram depois. Há muitas evidências de que após a agricultura a vida ficou mais dura, não houve melhora dos padrões de nutrição nem redução de doenças nos povos que a adotaram. A vida dos primeiros agricultores era uma desgraça. Esqueletos egípcios da época contam uma história terrível. Dedos e colunas deformados pelo esforço de moer grãos; sinais de artrite grave e abscessos horrorosos nos dentes. Provavelmente, ninguém vivia mais de trinta anos.

Ao contrário, os caçadores-coletadores que foram eliminados da paisagem pelos agricultores, passavam apenas umas quinze horas por semana caçando. e tinham bastante tempo de lazer. Então, por que, no mundo inteiro, praticamente todos os povos abandonaram uma vida fácil, escolhendo esse estilo de vida muito mais barra pesada?

Especialistas assumem que a agricultura foi adotada por que trouxe vantagem à sobrevivência de quem a adotava. Por meio dela se conseguia obter mais alimento por metro quadrado de terra disponível, era possível alimentar mais bocas, as mulheres tinham mais filhos que as mulheres dos grupos caçadores-coletadores.  As primeiras comunidades agrícolas, crescendo, empurravam os caçadores para mais longe. Por essa razão, uma vez que a agricultura chegava, ninguém podia dar-se ao luxo de dizer-“quero manter meu velho estilo de vida”. Não havia opção. Dez agricultores mal nutridos podem expulsar facilmente um caçador selvagem e ocupar suas terras. Foi o aumento da população que os excessos de alimento viabilizou que foi decisivo. Os caçadores-coletadores não abandonaram seus estilos de vida, eles foram obrigados a se mudar para terras imprestáveis para os agricultores. Caçadores -coletadores que existem ainda hoje, vivem todos em terras imprestáveis para a agricultura, como no ártico e nos desertos.

 

 

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