Qual o futuro do iPhone?
A história dos negócios está cheia de fracassos retumbantes, quando se planeja algo para “mudar o mundo”.
Uma semana após o lançamento, todo mundo é unânime: o iPhone será um caso estudado nas décadas que virão. Vai acontecer, sem dúvida, mas, sem querer ser chato, será que o estudaremos como caso de sucesso ou…? Veja só. A história dos negócios está cheia de fracassos retumbantes quando se planeja algo deliberadamente para “mudar o mundo”. O mundo sempre tem sua própria agenda. O “conceito” Coca-Cola, por exemplo, veio se formando por um século e nunca foi planejado. Em 1985, quiseram alterar o sabor original. Pesquisas haviam provado que havia um sabor “melhor”. A New Coke foi o maior desastre de lançamento de produto em todos os tempos – o maior erro de avaliação nos 99 anos da Coca-Cola. Em três meses, o sabor original estava de volta. Já ouviu falar do Ford Edsel? Um carro planejado “cientificamente” para tomar conta do mercado. Lançado em 1957 com uma fanfarra nunca vista, três anos depois saía de produção. Inovação não tem a ver só com produto melhor. Pergunte a um “especialista” o que ele espera do iPhone. Bastou vender 500 mil unidades em um fim de semana para que todos virassem profetas: “Vai acabar com os concorrentes e será dono do mercado de celulares, como o iPod é do seu”. Será? A questão central aqui é: num mercado cheio de concorrentes de peso, o que motiva um competidor a lutar ou fugir? No caso do mercado de telecom, a motivação é para lutar ferozmente contra o iPhone. Empresas estabelecidas, em geral, são muito boas em reagir a ameaças a seus produtos que dão mais dinheiro. O que um concorrente faz, os demais imitam imediatamente.
O novo multifone da Apple será um produto de nicho, uma espécie de Porsche dos celulares.
Pense na indústria automobilística: ignição eletrônica, air bag, freio ABS, direção hidráulica… todos têm. Caixas eletrônicas e internet banking (interfaces melhores) não dão vantagem competitiva (não ter essas coisas é que traz desvantagem). Kodak e IBM um dia tentaram entrar em copiadoras, mas levaram um “chega pra lá” da Xerox. Não havia nada que fizessem que a Xerox não fosse capaz de fazer. Ela levou banho foi das “nanicas” Ricoh e Canon. Ignorou-as porque não tinha motivação para brigar com “pequenos” fabricantes de copiadoras de mesa, de margens menores. Foi um erro. Os pequenos crescem e batem os grandes, se não em tamanho, em lucratividade e valor de mercado. Isso aconteceu não só em copiadoras, mas em aviação (SouthWest Airlines X American); em aço (Nucor X US Steel); em computação( PC X IBM mainframe); e em inúmeros outros setores. O que vai acontecer com o iPhone? É uma inovação “mais do mesmo” – um celular melhor e (muito) mais caro do que os que já existem. Deve ter uma margem (quase pornográfica) de uns 50%. Os rivais estarão motivadíssimos a lutar. Produtos novos com interfaces reprojetadas e preços menores. O iPhone será um produto de nicho. Um por cento do mercado mundial será excelente. Uma espécie de Porsche dos celulares.É isso que prevê a teoria da inovação. E se eu estiver errado? Bem, então terei de reformular a teoria. Como, aliás, qualquer um com mentalidade científica faz com o maior prazer.
* Artigo publicado na Revista Época Negócios – Nº 6 – Agosto 2007 – Coluna INOVAÇÃO.
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