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O Zoom longo, o perigoso agora, e o possível amanhã

Escrevo na segunda feira,17 de junho, 15.30 h.

Hoje espera-se alguma coisa grande nas manifestações em São Paulo à noite.

Especialistas estão em cima do muro (analistas, imprensa) – não fica bem criticar manifestantes porque isso poderia parecer ataque à liberdade de manifestação, algo que não soa bem (a polícia é sempre um alvo mais fácil). Autoridades ficam nas platitudes de sempre pelo mesmo motivo Blá blá blá.. . The world is a bad place (a terrible place) to live..

O que vai acontecer hoje eu não sei, mas aposto que sei o que o amanhã pode trazer com grande chance. Se o “futuro” fosse uma ação, eu compraria? Talvez.

1- Olho para o passado distante. O que ocorreu antes – em circunstâncias parecidas- é uma dica importante para o que PODERÁ ocorrer amanhã .

2- O que ocorreu antes foi uma grande frequência de ”pequenas perturbações”, digamos, sempre não disseminadas. Ou seja , com raio de alcance pequeno… (“Fora Renan” , “Contra a Corrupção”, “Aumentos para os professores.”….);

3- A dinâmica dos sistemas complexos sugere o seguinte em casos assim: “o muito, que produzia efeitos pequenos ,pode se transformar rapidamente no pouco, que gera efeitos grandes”.

4- Isso sempre acontece em sistemas em que não há causas isoladas para efeitos catastróficos. EX: uma perturbação que ricocheteia pela rede elétrica, foge do controle local, e apaga um país inteiro; os ataques de 11 de setembro; a crise financeira de 2008… Há sempre muitos agentes que, ao interagirem, produzem efeitos que não podem ser explicados por nenhum agente individual.

Nem polícia, nem manifestantes, nem analistas, nem opinião pública, nem autoridades nem o cidadão comum… Para entender o que virá, olhe para o sistema. Para entender o agora faça um zoom longo, passado a dentro.

5- Quando você faz isso vê que há grande chance de estarmos vivendo um padrão como o mostrado na figura abaixo:

Power law

 

O acúmulo de “muitos pequenos”, pode levar a um certo “ pouco que é catastrófico”. De repente, o que era local e pouco influente, pode virar global, e ter grandes consequências. Não pergunte o que crises financeiras globais,ou terremotos, possam ter em comum com as manifestações de rua no Brasil.Este é o ponto da ciência da complexidade:procure o padrão em domínios (aparentemente) desconexos.

6- Quando vivemos um padrão assim no passado (revoluções, embates capital X trabalho, greves, levantes, crises financeiras , terremotos…) o que sempre houve a seguir foi alguma ruptura …

7- Quem vence no final tende a ser o sistema. No sentido literal e no figurado. O sistema de instituições-se existe-age às pressas para reconstruir algum equilíbrio possível. Leis e mecanismos novos são promulgados para dar conta da ruptura que emergiu e pegou a todos de surpresa. Mas o sistema se mantém, ainda que em outro formato.

Sistemas em que a informação pode fluir são extremamente resilientes- mudam de forma mas se adaptam a novas tensões (esqueça esse negócios de fim do capitalismo, não vai ocorrer. Pode aparecer outro tipo, mas será capitalismo).

Quer dizer, se o sistema é inteligente ele se mantém adaptando-se (Japão, Alemanha no pós guerra..). Se o sistema é estúpido, ele tenta se proteger pela força (Cuba, antiga União Soviética..) mas será impelido para o colapso se não admitir mudar de forma.

Minha aposta para o caso brasileiro é a seguinte:
-Estamos deslizando curva a baixo para aquela zona em que PODE haver uma ruptura forte adiante. Dependendo da resposta hoje, poderemos tornar inevitável uma grande perturbação amanhã. Eu não correria o risco de tentar alongar a cauda do agora. Reconheceria o perigo para a estabilidade do sistema, e proporia contramedidas já. Me anteciparia (ativamente) aos possíveis desdobramentos do agora.

Se fizerem isso, pode comprar ações do futuro.

 

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