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O segundo modelo – Pessoas+ Processos+ Tecnologias

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Pacientes com problemas diagnosticáveis sem ambiguidade e tratáveis de forma padrão

A segunda categoria de demandas em saúde são condições que têm prescrições e protocolos comprovados para levar à solução. Estas se concentram no extremo oposto das situações médicas mais complexas (MODELO 1).

O maior volume de demandas médicas em qualquer população é aqui-nas chamadas condições agudas. Crianças com dor de ouvido,garganta inflamada, fraturas sem maiores consequências (braços, canelas, costela..). Gripe que não vai embora. Grande parte das condições oftalmológicas. Hérnias de muitos tipos. Condições cardiológicas/coronarianas e muitas outras. É o domínio da atenção primária, de abordagens para muitos problemas crônicos, cuidado pré-natal, tratamento de alergias, stress, resfriados comuns, cuidados preventivos, vacinações, classificação de risco, testes diagnósticos.

Condições de saúde tratáveis pelo MODELO 2 podem até ser complexas, mas o que as caracteriza é que são diagnosticáveis e tratáveis de modo a se chegar à uma “entrega” garantida.

O MODELO 2 não custa tanto (nem rende tanto $) por paciente como as do MODELO1, mas entopem os postos de saúde, estressam o sistema e geram um custo enorme.

Em situações “MODELO 2”, o diagnóstico é rápido (não há ambiguidade). Exames rotineiros e experiência detectam com precisão. A demanda do usuário é esta: “me ajude a ficar bom”. Procedimentos padronizados garantem isso (quase sempre).

Condições MODELO 2 se resolvem por meio de sequências de procedimentos especificados passo-a-passo. Cada procedimento agrega algo para um bom resultado final. Dizemos que o problema é resolvido por cadeias de procedimentos que agregam valor.

CHAINScomo são chamados.

O ambiente em que o trabalho é realizado pode lembrar o de uma UNIDADE DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL (Toyota, Henry Ford, McDonalds…).

Esse tipo de organização codifica as atividades que realiza de modo que possam ser executadas de forma repetitiva por pessoas treinadas, mas não excepcionais. Essas pessoas não são problem solvers como os especialistas do MODELO 1.

Lembre-se: organizações assim geram valor executando sequências de etapas que constroem a entrega final.

Todo o trabalho é padronizado. Não há necessidade de avaliação de experts para sua realização; ele é repetitivo e gera alto volume de outputs.

Nesse modelo, “PROCESSOS+TECNOLOGIAS” representam uns 70% da ênfase.

“PESSOAS” não são o centro da coisa (30% de ênfase).

Não pense que pessoas não são importantes. São, mas são menos importantes do que no MODELO1. São mais facilmente treináveis. Mais facilmente substituíveis. Mais baratas.

Organizações MODELO 2 aprendem a fazer o que fazem, repetindo, repetindo, repetindo, e ficando cada vez melhores em fazer o que tem que ser feito. Por que isso é possível? Porque sempre se sabe a priori o que deve ser feito.

Este tipo arranjo assistencial pode garantir RESULTADOS porque surpresas e variações são mínimas.

O MODELO 2 deve ser remunerado por valor: ganha-se por entregar algo específico-um desfecho que o cliente e o prestador sabem perfeitamente qual é. O prestador pode dar garantia do serviço que presta.

A remuneração pode e deve ser por valor gerado para o paciente, porque o prestador pode garantir desfechos para as condições médicas que trata.

A HÉRNIA DO BOLSONARO

A hérnia que Bolsonaro operou em setembro de 2019 é um exemplo bom.

Hérnias estão entre as condições que podem e devem ser operadas numa CHAIN (MODELO2), não numa Solution Shop dentro de um hospital geral (MODELO1) como Bolsonaro optou por fazer.

Isso quer dizer que ele poderia ter sido operado por um médico não tão especializado (nem tão famoso e caro) obtendo os mesmos desfechos (ou melhores), por um custo menor. Poderia ter optado por um sistema de prestação de serviços MODELO 2, sem se preocupar com o médico que faria o procedimento, porque numa CHAIN é o sistema que garante o resultado, não o médico.

Mesmo as complicações que aparecem durante procedimentos realizados em chains são, digamos, “complicações padrão” resolvíveis por meio de protocolos e técnicas conhecidas e dominadas por qualquer médico que tenha praticado o suficiente. Ter realizado a intervenção num hospital de luxo com um “médico estrela” (que teve o passe comprado de outra instituição) não era necessário para garantir bom desfecho.

Nada há de ilegal ou errado no que Bolsonaro e seu médico optaram por fazer, foi apenas desnecessário.

Não é o que o cidadão comum deve fazer para ter o mesmo desfecho por menor custo. A menos que o cidadão comum seja um deslumbrado por aparências e tenha dinheiro para gastar com amenidades.

No Canadá funciona um arranjo “PESSOAS-PROCESSOS-TECNOLOGIAS” tipo CHAIN, chamado Hospital Shouldice . Eles operam apenas hérnias abdominais e vai gente do mundo inteiro operar lá.

Veja custos e qualidade da Shouldice :

  • O processo padrão na Shouldice dura 4 dias. Todos os pacientes seguem o mesmo roteiro antes, durante e depois da cirurgia.
  • O primeiro dia é para adaptação da dieta do paciente. A cirurgia é feita no segundo, e o terceiro e quarto dias são para recuperação nas próprias instalações do hospital (que lembram um country club; são excelentes, mas sem ostentação).
  • O custo do pacote é US$2300, a satisfação do paciente é praticamente 100% e não há reclamações judiciais de quaisquer naturezas.

Compare com o mesmo procedimento feito num hospital geral americano:

  • O custo é US$3350,00 e o tempo de permanência fica em aberto. Se o paciente fica 4 dias (como na Shouldice) esse custo chega a uns US$7000,00 e os desfechos não são melhores.

Qual das duas opções gera mais valor para o usuário?

Custo baixo se obtém com foco (só se opera hérnia abdominal no Shouldice) e a qualidade dos desfechos é resultado da integração das atividades que são necessárias para realizar o que tem de ser realizado para garanti-los.

Desconfio que se Bolsonaro tivesse optado por se operar na Shouldice , mesmo considerando o deslocamento, o custo teria sido menor e o desfecho não teria sido pior.

Ele fez o que qualquer um faria. Quer dizer, qualquer um com recursos, mas sem informação sobre desfechos. Alguém nessas circunstâncias tem que confiar no que seu médico recomenda. Foi o que Bolsonaro fez. Foi uma excelente opção, mas não pode ser considerada a melhor opção se o que se busca é valor para o paciente

Quando ASSISTÊNCIA COM BASE EM VALOR for o paradigma dominante em saúde, saberemos os desfechos de todas as organizações que tratam de condições médicas específicas (como hérnias no caso de Bolsonaro) porque eles serão divulgadas para o público.

O público então poderá decidir por si mesmo para onde ir.

(Continua… MODELO 3)

 

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