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O primeiro modelo – Pessoas+ Processos+ Tecnologias -​ em saúde

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Existem 3 modelos (arranjos) de “PROCESSOS+PESSOAS+TECNOLOGIAS” para resolver problemas em saúde.

Isso significa 3 formas diferentes de se gerar valor para o paciente que dependem da circunstância médica específica em que ele está.

O que também significa que há 3 tipos diferentes de gestão para as organizações de saúde.

É errado dizer que “PESSOAS” é sempre o componente que define o valor de qualquer modelo assistencial. Isto só é verdade no primeiro dos 3 modelos, exatamente o que eu experimentei. Meu caso particular na UTI (post anterior) se enquadra no

MODELO 1:
Usuários com problemas cuja solução só se descobre por experimentação (tentativa e erro).

Quando o doente está nessa situação não se sabe a priori o melhor caminho terapêutico. Muitas vezes ( mas nem sempre) são situações extremas. A “solução” nunca é garantida, e os especialistas usam intuição e experiência para testar possíveis linhas de tratamento.

Há muitas situações assim, p.ex, pacientes poli traumatizados/em choque séptico(eu)/com problemas neurológicos/psiquiátricos agudos/diabéticos com problemas cardíacos+circulatórios+respiratórios; quadros degenerativos, certos estágios de câncer etc..

Situações assim são as mais “médicas” da medicina, digamos. Exigem intervenção de médicos atuando como problem solvers , ou seja: capazes de usar conhecimento que represente a melhor chance do usuário ter sua condição melhorada, ficar bom, ou sobreviver.

São essas as situações que constroem a mitologia da profissão médica retratada em seriados como “House”. É a figura que vem às mentes da maioria de nós quando pensamos num médico.

Neste domínio, os problemas que o “médico como problem solver” tenta resolver não estão estruturados. O diagnóstico não remete direto à solução. O risco é sempre alto.

A necessidade do usuário é simples de enunciar e difícil de realizar: “descubra o que tenho e me ajude a resolver”. O especialista experimenta, faz tentativas (muitas vezes correndo contra o tempo), usa sua intuição, consulta colegas, busca casos parecidos na literatura. Pesquisa o caso e age como um consultor que tenta construir a solução “certa” para o caso”.

O ambiente que abriga esse tipo de “organização”-muitas vezes uma UTI, mas nem sempre- é como uma oficina ou laboratório em que pequenos times testam variantes terapêuticas em busca de uma solução.

Chamam esses ambientes de “oficinas resolutivas” (em inglês: solution shops) ou “oficinas de solução” para enfatizar a experimentação que é inerente ao processo de busca da solução.

O arranjo “PESSOAS-PROCESSOS-TECNOLOGIAS” que tem mais sucesso nesses casos, é fortemente dependente de PESSOAS (uns 70% de peso) e menos de “PROCESSOS+ TECNOLOGIAS” (uns 30%).

Os médicos são caros e devem ser remunerados pelo que fazem, não pelo resultado que obtém. Por quê? Porque não podem garantir desfechos; garantem apenas aplicar a cada problema o melhor conhecimento disponível.

Por isso devem ser remuneradas num esquema que chamamos de fee for service – pagamento por serviço realizado, independentemente dos resultados obtidos. Nesses casos (e só nesses) este é o sistema de remuneração mais adequado (por enquanto; mas isso vai mudar).

Essas solution shops, geralmente (mas nem sempre) estão dentro de hospitais gerais, o que tende a embolar suas atividades com outras menos complexas, gerando desperdícios e custos desnecessários. O ideal seria que fossem unidades independentes sempre, mas não dá para transformar qualquer tipo de solution shop em um negócio que pare em pé sozinho, fora do hospital. Se quiserem saber por que,perguntem.

Solution Shop significa: cada cliente, uma solução. Cada cliente um problema diferente a resolver. O insumo mais importante é o conhecimento, a criatividade e o talento de seus especialistas para reconhecer padrões e propor soluções a partir deles.

Solution shops são organizações comparativamente pequenas. Não tem faturamento alto em comparação com arranjos de alto volume que veremos a seguir, mas ganham mais dinheiro por cliente que qualquer outra. São organizações que estruturam e propõe soluções para problemas não padronizados e ambíguos.

Mas não pensem que este “MODELO 1″ deva ser o referencial supremo da gestão da saúde. O valor supremo deve ser valor para o usuário e para isso qualquer sistema de saúde decente deve ter em funcionamento outros dois modelos além do MODELO 1.

Vamos ver agora o MODELO 2 no qual tudo pode ser padronizado e os resultados podem ser garantidos. O grosso do volume assistencial em qualquer população de usuários está aqui. É nele que está o segredo da eficiência de um sistema de saúde porque um bom Modelo 2 atua para evitar que os usuários cheguem a precisar de solution shops (MODELO 1).

Mas é um arranjo PESSOAS-PROCESSOS-TECNOLOGIA completamente diferente. Nele, não é a relação pessoal “médico-paciente” que conta mais.

Vamos falar dele.
(Continua…)

 

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