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Quem é o culpado? Ou: o primeiro conselho de Einstein – enquadre certo o problema certo

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(adaptado do livro Inovação em Saúde: como reduzir custos e melhorar resultados usando uma nova ciência)

Sabe por que os debates sobre o sistema de saúde não levam a nada? Porque não entendem a natureza do problema que estão debatendo. O sistema de saúde é um sistema complexo, no sentido em que a ciência define o termo “complexo”.

Problemas em sistemas complexos se originam da interação de muitos elementos (agentes/players) e jamais são resolvidos por intervenções isoladas. Dizemos que os efeitos que observamos (bons ou maus) emergem da interação entre os agentes que constituem o sistema, mas não são causados por nenhum deles em particular.

O sistema de saúde é um vasto conjunto de agentes, normas, comportamentos, e processos, que interagem gerando efeitos cuja origem não está em nenhum deles isoladamente. Por analogia com o mundo biológico, falamos em ecossistema da saúde. Sem levar em conta as interdependências entre os agentes envolvidos você não os resolve. Ações específicas – “locais”- sobre este ou aquele agente podem até piorar o sistema, e frequentemente pioram, apesar das boas intenções de quem as sugere.

Há sistemas complexos de várias naturezas. Alguns “aprendem” e se adaptam produtivamente aos seus ambientes sem intervenção de fora (o cérebro, um formigueiro), outros não (o mercado financeiro). O sistema de saúde é do tipo que exige intervenção para funcionar direito, mas essa intervenção é de uma natureza muito particular. Como veremos, trata-se de um design não uma montagem.

“Complexidade”, na abordagem científica, não é a mesma coisa que “dificuldade” ou “complicação”. Um motor de carro, ou um Boeing, são mecanismos complicados, mas não complexos. Coisas que você pode desmontar substituir peças e montar de novo podem ser complicadas, mas não são complexas; não dão origem a efeitos emergentes porque as interdependências entre elementos que as compõe são bem conhecidas. Seus encaixes estão bem especificados. Sua arquitetura é definida para gerar funcionalidade máxima. Não é assim no sistema de saúde.

No mundo da complexidade a noção de “causa” é suspeita.

Pense por analogia com uma bolsa cheia d’água – você faz pressão num ponto e ela afunda ali, mas incha noutro ponto. O efeito se propaga porque o sistema transmite as tensões que recebe. Nossos gestores e formuladores de políticas em saúde não têm a menor ideia disso, e insistem em ficar “proibindo isso, regulando aquilo; estabelecendo limites aqui, ampliando ali; prendendo aqui, soltando lá”- tudo de cima para baixo. Não funcionou, não funciona e não funcionará. Sistemas complexos não se deixam gerenciar assim. Veremos vários exemplos.

Os problemas do sistema de saúde não são originados em nenhum “ponto” específico em que se possa intervir diretamente para produzir a solução: regulação, ou (o suposto) mercantilismo das operadoras, ou dos prestadores de serviço; a falta de investimentos, o salário dos profissionais, a política de remuneração dos prestadores de serviço, a perda da original vocação humanista da medicina, o esfacelamento da relação médico – paciente, ganância, falta de ética, ou oferta excessiva de tecnologia supérflua. Nada disso. Mas solução há.

Meu novo livro parte do reconhecimento de que o sistema de saúde é complexo – (é um ecossistema) – e constrói um design inovador passo a passo com base nas abordagens e ferramentas da ciência da complexidade. Saiba mais e apoie o lançamento AQUI.

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