O longo Zoom.Ou: transformando tédio em melodia
Minha forma de praticar e ensinar gestão (inovação) é relacionar suas práticas à aventura humana, lançando um longo olhar- o longo Zoom-sobre aquilo que nos torna produtivos. O gestor interfere (num organismo, num processo) para alterar o status quo.
Como é que se define uma interferência bem sucedida? Mais eficiência. Mais valor.
Nenhuma tecnologia foi tão decisiva para que saíssemos da pré-história ,do que a agricultura, há uns 10000 anos. Uma interferência não intencional, (ocorrida por acaso), portanto, não gerenciada. Qual ganho em eficiência motivou a adoção dessa tecnologia a que chamamos agricultura? Graças à ela, os humanos deixaram de ser andarilhos. As mulheres passaram a ter mais filhos – até então a média era um filho por mulher pois elas não podiam andar carregando mais de um. O quê está por trás desse sucesso de mercado?
Quando nossos antepassados, caçadores-coletores, há uns dez mil anos, “perceberam “ que podiam interferir na natureza, a humanidade ganhou nova dimensão. Em vez de sair por aí buscando animais para caçar, aprenderam a domesticá-los; em vez de colher o que a natureza colocava à sua frente, descobriram que poderiam preparar o solo, plantar e colher em épocas previsíveis .A civilização começa aí.
A mente humana percebeu que podia pegar fatos soltos e desconexos-(os dados daquele ambiente em que viviam)- e recombiná-los segundo um novo padrão, reconfigurá-los de forma criativa, de modo a gerar um novo efeito.
Os dados soltos, isoladamente sem maior significado, eram: sol, chuva, sementes e mudas de vegetais, calor, frio, solo, bichos andando por aí, animais alimentando-se, gerando crias…etc….e a ordenação nova, começou a surgir quando alguém foi capaz de pensar algo como: “se eu preparar o solo na época certa, jogar sementes nele, se chover o suficiente e o sol brilhar na medida certa, daqui a algum tempo vão nascer plantas com as quais eu poderei me alimentar. Se eu capturar alguns animais (em vez de matá-los para comer) e confiná-los num certo espaço, alimentando-os eu mesmo, depois de um certo tempo nascerão crias, e eu terei alimento sem depender dos caprichos e incertezas da caça e coleta. Além do mais, poderei usar o estrume desses animais para tornar o solo mais fértil e usar sobras dos alimentos que minha colheita gera, para alimentar a eles próprios…”..
É isso o que significa transformar dados em informação-(“transformar tédio em melodia”, como disse o Cazuza).
Por quê a agricultura ficou comum? A resposta óbvia seria: ela torna a vida mais fácil, mais feliz; mas isso não é verdade. Há muitas evidências de que após a agricultura, a vida ficou mais dura, não houve melhora dos padrões de nutrição, nem redução de doenças nos povos que a adotaram. A vida dos primeiros agricultores era uma desgraça. Esqueletos egípcios da época,contam uma história terrível. Dedos e colunas deformados pelo esforço de moer grãos; sinais de artrite grave, e abscessos horrorosos nos dentes. Provavelmente, ninguém vivia mais de trinta anos. Ao contrário, os caçadores-coletadores que foram eliminados da paisagem pelos agricultores passavam apenas umas quinze horas por semana caçando, e tinham bastante tempo de lazer. Então,porquê, no mundo inteiro, praticamente todos os povos abandonaram uma vida fácil, escolhendo esse estilo de vida muito mais barra pesada? Especialistas assumem que a agricultura foi adotada por que trouxe vantagem à sobrevivência de quem a adotava. Por meio dela, se conseguia obter mais alimento de uma certa área, era possível alimentar mais bocas, as mulheres tinham mais filhos que as mulheres dos grupos caçadores-coletadores.As primeiras comunidades agrícolas, crescendo, empurravam os caçadores para mais longe. Por essa razão, uma vez que a agricultura chegava, ninguém podia dar-se ao luxo de dizer-“quero manter meu velho estilo de vida”. Não havia opção. Dez agricultores mal nutridos podem expulsar facilmente um caçador selvagem e ocupar suas terras. Foi o aumento da população que os excessos de alimento viabilizaram, que foi decisivo. Os caçadores-coletadores não abandonaram seus estilos de vida, eles foram obrigados a ir embora para terras imprestáveis para os agricultores. Os caçadores – coletadores que ainda hoje existem, vivem apenas em terras imprestáveis para a agricultura, como no ártico e nos desertos.
O novo tem de ter apelo segundo algum critério, se não, será apenas novidade, não inovação. A missão do marketing é descobrir o que tem apelo. Depois que alguém, por acaso ou acidente, inventou a agricultura, ela acabou virando um sucesso de marketing porque quem não a adotasse deixaria menos crias. Ficar vivo, continuar existindo, é que foi a grande motivação, não qualquer vantagem imediata que pudesse ser obtida com sua adoção. Não havia essa vantagem.