Innovatrix

O inovador genial não existe

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A história da inovação tem sido assim: alguém inventa uma coisa, outro pega e dá um uso estranho à intenção original. Inovação ocorre por meio de sequências de adaptações, uma puxando a outra.

Na cena de abertura do filme “2001-Uma Odisséia no Espaço”, um pré-humano nota que um osso poderia ser usado como arma. A cena (inesquecível)- ao som de “Assim falou Zaratustra”- mostra o osso lançado ao ar pelo “macaco” transformando-se numa nave espacial milhões de anos depois. Eis aí. Quem inventa não sabe o que está inventando. O aparelho de fax foi criado por americanos , mas foram os japoneses que ganharam dinheiro com ele. Steve Jobs -o inventor do conceito de computação pessoal- achava que sabia como o mercado de PCs iria evoluir. Perdeu para Bill Gates que estava longe de saber o que o Windows se tornaria. Décadas antes do fax, uma empresinha japonesa -Tokyo Tele Communications- fabricante de fogões para cozinhar arroz, comprou por quase nada a patente do transistor da americana Western Eletric. Em 1955 lançou o primeiro rádio “de pilha”, mudou a história da comunicação e mudou de nome também: passou a chamar-se SONY.

Se você rebobinar a fita da história, vai ver que, da machadinha de pedra lascada ao microchip, raramente criamos intencionalmente com base em “necessidades e desejos” evidentes . Um livro clássico sobre o tema, diz: “Como todo o reino animal, nós também poderíamos viver sem fogo ou ferramentas. Cultivar a terra e cozinhar, não são pré-condições para a sobrevivência humana e só são necessidadesporque decidimos definir nosso bem-estar assim.. Houve tempos em que “necessidade” levou `a construção de pirâmides e templos, em outros, significou movimentar-se em veículos auto-propulsores. .. A conquista do supérfluo nos dá mais estímulo que a do necessário porque os humanos são criação do desejo, não da necessidade”.

O automóvel não surgiu da necessidade de nos locomovermos com mais praticidade e rapidez. Entre 1895 e 1905 carros eram brinquedos para ricos. Necessidade só surgiu depois que eles já estava lá (há 10 anos!). É o produto que tem inventado a necessidade! Grandes inventores criam por instinto, curiosidade, fantasia, brincadeira. Thomas Edson não sabia o que o fonógrafo iria se tornar quando o inventou em 1877. Para ele seu uso seria (pela ordem): “registrar ordens sem ajuda de estenógrafo;fornecer “livros falados” para cegos; ensinar a falar em público;reproduzir música; registrar as últimas palavras dos moribundos”… Reproduzir música era sua quarta prioridade (achava que seria uma coisa muito trivial para se fazer com sua máquina).

Pode apostar: há sempre um artefato mais primitivo que serve de embrião para o mais complexo.Até a roda surgiu por evolução de um design que já estava lá. Quer inovar? Não pergunte ao cliente sobre suas necessidades -ele não sabe-e, como você também não sabe, faça o que acha que deve e fique atento à maneira como seu produto é percebido; modifique-o se necessário; mate-o se não houver esperança. Desejos e necessidades emergem desse processo, não são pré-definidos.

 

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