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Como construir um ecossistema inovador em saúde


ecossistema

 

Para haver boa assistência à saúde a um custo pagável, temos que integrar diferentes perspectivas. O nome disso é “arbitragem” – a arte de entender o todo a partir de seus elementos constituintes sem cair na armadilha de achar que esses elementos podem ser “otimizados” isoladamente, pois não podem. Nada vai melhorar sustentavelmente sem que tudo que é relevante melhore simultaneamente. As perspectivas que devem ser integradas incluem tipos diferentes de organizações assistenciais, normas regulatórias e incentivos para mudanças de comportamento.

Em meu livro – Inovação em Saúde – mostro como concluí que temos de ter no mínimo os seguintes elementos presentes simultaneamente para termos um sistema assistencial sustentável:

– Três tipos diferentes de organizações assistenciais gerenciadas de acordo com a complexidade da situação médica do paciente, paciente-a-paciente. O velho “hospital geral” que se propõe a fazer tudo para todos, não resolve mais. Tem que ser desconstruído. Também mostro como, no livro.

– Critérios de remuneração baseados no desempenho dos prestadores de serviço, não no volume de atendimentos que realizam. Prestadores têm que competir por valor que geram. Valor é o resultado médico obtido dividido pelo custo para obtê-lo. Os usuários têm que ter critérios objetivos para escolher este ou aquele prestador. Para isso, os resultados dos prestadores têm que ser medidos, amplamente divulgados e auditados.

-Incentivo à prevenção I – Incentivos (até financeiros) para os usuários cuidarem de sua própria saúde. Os indivíduos têm que sentir (no bolso) que vale a pena fazer isso.

– Incentivo à prevenção II – A prevenção à saúde tem que dar lucro às empresas que se dedicarem a promovê-la. Hoje, profissionais e organizações de saúde são remunerados quando amputam uma perna devido , digamos, a alguma complicação de diabetes. Ninguém é remunerado por evitar que a perna seja amputada. Prevenção não dá dinheiro.

-Prevenção III – O uso de ferramentas analíticas (big data etc…), e de gestão, para prever, controlar e minimizar o custo assistencial de grupos de pessoas. Isso é possível hoje, mas quase ninguém faz porque o sistema não remunera prevenção. As operadoras privadas não têm uma visão de longo prazo porque não podem ter mesmo – sabem que grande parte de seus usuários não é de “longo prazo”, são idosos, crônicos, e não têm grande expectativa de vida. Os demais também não são “longo prazo”- saem e vão para outra operadora ou para o SUS em busca de “preço” menor.

Não há nada que se possa fazer para melhorar sustentavelmente o sistema sem levar em conta todos esses fatores simultaneamente. Achar que um ou outro é o pulo do gato é não ter entendido a “natureza do gato”. O papel do gestor é fazer a arbitragem – dar pesos e avaliar o grau em que cada um deve ser levado em conta na montagem do sistema.

Agências reguladoras e órgãos do estado têm que entender isso e redefinir seu papel incentivando projetos-piloto para demonstrar na prática que os resultados vem. O OBAMACARE nos EUA tem essa filosofia – projetos piloto para aprender, reter o que dá certo e descartar o resto. Está dando certo.

Você não conhece nenhuma organização nem pública nem privada no Brasil que tenha atuação relevante em todas as dimensões que citei (organizações isoladas sim, sistemas de saúde não).

PS: Lançamento do livro “INOVAÇÃO EM SAÚDE” dia 20/06 no Rio. Inscreva-se AQUI.

 

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