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O herói que dá errado na vida

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Comentários sobre um post anterior me obrigam a entrar num terreno mais pessoal (do qual vou sair rapidinho em seguida). Só posso falar do que fiz, faço, ou tento fazer. Não dou conselhos porque não consigo ser coerente em “tempo integral”, e estou sempre tendo de me proteger de mim mesmo, mas vamos lá.

Você pode exercitar uma certa elegância pessoal na vida. Isso não significa não ter inveja ou desejos inconfessáveis. Não significa não ser humano. Significa saber que você é “amputado” de alguma coisa, e que é esse buraco que define sua humanidade.

Não caia no ridículo de fingir que você não é assim. Ridicularize os fanfarrões que dizem que não são assim. Despreze-os com superioridade elegante, não com fanfarronice simétrica à deles.

Fuja da indigência das ideologias.

Não divida o mundo entre “bons” e “maus”; isso é uma coisa estúpida. Não ataque “o capital”, os “ricos”, os “banqueiros”, “os poderosos” (muitos até merecem, mas não perca seu tempo com raivinhas).

Não mitifique os “pobres” nem as minorias (gays, trans, índios, negros…). De perto ninguém é normal.

Ataque o que é antiestético; o deselegante. Eu curto catedrais, vitrais, cheiro de vela queimando, incenso, canto gregoriano. Mas rejeito discursos religiosos/moralizantes venham de onde vierem – papa, bispo, rabino, pastor, aiatolá, mulah… Falas de autoridades não me interessam (mesmo que se auto intitulem porta-vozes de Deus).

Heroísmo não é vencer batalhas; sucesso também não. Heroísmo é comportar-se heroicamente independentemente do resultado das suas batalhas e não tem nada a ver com sucesso. Se você permitir que outros definam o que é “sucesso” para você, você merece ser sacaneado pela vida.

Demita os que poderiam demitir você (se tiver coragem).

Tenha coragem! Abandonar um emprego bem remunerado se a decisão for sua, vai ser muito melhor do que a utilidade do dinheiro envolvido (pode parecer maluquice, mas eu tentei e funcionou).

Agora, não fique bancando o “cara bacana desapegado”. Não fique o tempo todo lembrando a seus amigos como você é corajoso. Não faça o discurso de como você “optou” por menos dinheiro “apesar de ter a chance de ficar milionário”. Se tiver de falar disso, fale sem afetação de heroísmo e mude logo de assunto.

Não faça propaganda de você. Marketing é importante, mas não no domínio da vida. Na vida, fazer marketing é vulgar.

Nunca, jamais, sinalize virtude! Virtude e holofote não combinam. Virtude tem que ser silenciosa.

O cara que doa sangue e faz questão de que todo mundo fique sabendo, é um babaca. Finge casualidade, mas quer faturar prestígio – (“segunda feira não posso, tenho que doar sangue”).

Desapegue-se do que possam pensar de você. Treine esse desapego.

Como Millor Fernandes, eu também não acredito em ninguém que lucre com seu ideal. Desconfio dos defensores de causas “bacanas” – essa multidão de gente “do bem” e celebridades desinteressadas – (artistas e intelectuais, você sabe) – que querem nos salvar pois sabem o que é melhor para nós.

Você sempre poderá perder. O acaso sempre tem a palavra final. Você pode ser “interrompido” pelo assaltante, pelo raio, pelo caminhão que cruza a pista, pelo fracasso profissional, pelo infarto, pelo câncer…E pode acreditar, se o acaso te pegar o universo não vai dar a mínima.

Não se faça de vítima se o diagnóstico for câncer (não fale com ninguém. Só divida a informação com seu médico. Isso vai poupá-lo das platitudes dos amigos, e ninguém vai tratá-lo como vítima que precisa de piedade).

Só nossa dignidade pessoal está sob nosso controle. Honra, definida como um protocolo de comportamento que não depende das circunstâncias.

“Mantenha-se altivo no dia de seu fuzilamento. Barbeie-se com capricho e ponha seu melhor terno. Diante do pelotão, mantenha-se ereto e orgulhoso. Tente não culpar ninguém por seu fracasso, mesmo que mereçam. Seja extremamente cortês com sua secretária no dia em que aquele negócio não sair, ou quando você perder dinheiro. Nunca (jamais!) demonstre auto piedade (nem mesmo quando sua namorada trocar você por aquele personal trainer saradão de ar abestalhado). Não reclame”.

A única coisa em que o acaso não pode interferir é em seu comportamento.

PS: o texto acima, assim como o post anterior, foi adaptado de Nassim Taleb, mas tudo o que tem referência pessoal- (“eu curto/ eu fiz isso assim ou assado”), é sobre mim mesmo, Clemente Nobrega.

 

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