Innovatrix

O caso (ou ocaso?) do homem mais rico do Brasil

post5

 

 

O conglomerado de empresas liderado por Jorge Paulo Lemann demonstra a tese do post anterior: se a complexidade da organização não encaixa com a do ambiente, ela morre. (releia o post aqui).

O grupo de Lemann é uma mina de ouro e ele é o homem mais rico do Brasil. A fórmula deles é simples (não é complexa!): compre velhas marcas estabelecidas em setores maduros como bebida e alimentos – coisas mundanas, nada sofisticadas, que nunca vão sair do radar do consumo. Opere-as com eficiência – corte custos agressivamente, enxugue (demita gente), automatize, busque ganhos de toda ordem onde der. Ou seja, não tente fazer uma cerveja “melhor” ou diferente, compre as brasileiras BRAHMA e ANTÁRTICA, a americana BUDWEISER, a argentina QUILMES, e faça essas “velharias” operarem direito. Compre empresas que todos conhecem (como o KETCHUP HEINZ e o BURGUER KING) e injete eficiência nelas!

Tem funcionado maravilhosamente há décadas, até que….Bem, começou a deixar de funcionar. Por quê?

O ambiente ficou mais complexo do que eles. Você já sabe: se a complexidade da organização não encaixa com a do ambiente, ela morre. O consumidor está buscando opções mais saudáveis no mundo inteiro (“ketchup não, por favor!”), milhares de cervejas artesanais ocupam nichos que ninguém tinha ideia que existiriam, os canais digitais de compra e venda são cada vez mais relevantes. O grupo de Lemann não sabe nada dessas coisas porque nunca precisou saber. Seu DNA é de hardware-operação, produção, eficiência. Não é segmentação de mercado, não é “software”, não entendem nada de nichos. ”Comportamento do consumidor? Que diabo é isso?”.

Diante da ameaça, saíram comprado marcas de cervejas artesanais adoidado (todas as que apareceram pela frente), e criaram uma área de inovação da qual não se sabe detalhes. Claro, inovação é “dinheiro novo”, coisa da qual eles gostam muito. Continuam riquíssimos, nadam em dinheiro, estão longe de qualquer crise terminal, mas todos duvidam que estejam sustentáveis, inclusive eles próprios. Suas vendas e preço de ações declinam e declinam.

Conseguirão se complexificar o suficiente para responder ao ambiente quando não houver mais ninguém para ser comprado? Conseguirão continuar comprando conhecimento que não desenvolveram? Serão capazes de construir internamente as novas “conexões neurais” necessárias para tornar esse conhecimento “orgânico”? É isso que todos se perguntam.

Lemann é craque, e confessou com elegância e humor
num seminário sobre inovação há pouco tempo:
“aos 78 anos, sou um dinossauro com medo da extinção”.

Eu não os descartaria porque eles têm os dois requisitos essenciais para mudar: consciência de que têm de mudar, e coragem para isso. O que se seguirá é um caso que merece ser acompanhado.

 

 

Leia também