Minha palavra de ordem:”não é circo nem é pão, o que falta é só gestão!”
– Pelo que vi, manifestações desta semana não atacam a existência de partidos (como os “especialistas” estão interpretando), elas atacam a existência destes partidos e deste sistema político que estão aí. Estão nos dizendo que o sistema político brasileiro precisa inovar. As pessoas estão infelizes no país que é um sucesso.
-Inovar é rearranjar os recursos disponíveis no sistema de forma que eles gerem resultados mais valor. Numa empresa, “mais valor” é medido em dinheiro. Numa organização pública, “mais valor “ se refere a valor social, não econômico. Em qualquer caso, a medida do sucesso é o que sai do sistema, não os recursos que entram nele.
-É impossível haver inovação sem gestão. Gestão é definir um resultado a alcançar e traçar um plano de ação para chegar lá. Sem meta não há gestão. Sem gestão não há inovação.
-Digressão: gestão foi a mais importante inovação do século XX . Não foi a energia atômica , o laser, o microchip , a penicilina, a Internet. Sem gestão nada dessas coisas teria produzido efeitos concretos no mundo.Teriam permanecido como ideias.
Inovação nunca é uma ideia, é um resultado que se obtem. Ideologia mata a gestão porque sucesso para um sistema de ideias não é um resultado a alcançar, é a sobrevivência da ideologia em si.
-Voltando: um discurso que só enfatiza inputs-como o discurso oficial no Brasil- é um discurso ignorante de gestão. Não há desculpa para isso . Para sabermos se estamos tendo sucesso temos de medir o que sai do sistema. As manifestações estão dizendo que o que está saindo do sistema é pouco.
-Não é evidente que faltem recursos para educação, transporte, saúde, segurança. Tirar dinheiro da Copa para dar para saúde/educação seria tolo inócuo, e contraproducente porque partiria do falso pressuposto de que o que falta é dinheiro. Encher o sistema educacional de dinheiro não resolveria nossos problemas. Nem importação maciça de médicos.
-A questão certa é: por que não usamos o “processo FIFA” (não o dinheiro, porque dinheiro há) para produzirmos saúde e educação de qualidade? Resposta: porque não entendemos nada de gestão e o processo FIFA é pura gestão. A FIFA impõe metas (estádios, infraestrutura) para chegar ao resultado que é a realização de uma Copa a cada 4 anos. É pragmático. Um conjunto de ações monitoradas dia-a-dia rumo a uma meta a alcançar.
-Com 39 ministérios, operados por gente de todas as colorações ideológicas, nosso sistema é impossível de gerenciar. Ei, manifestantes, repitam comigo: não faltam recursos, falta gestão!
Gestão é resultado, não esforço. É o que sai do sistema, não o que entra. Só falamos do que entra – dinheiro do petróleo para a educação, médicos cubanos para a saúde. O que vai sair? Como mediremos o que vai sair?
-Não é pegar o dinheiro da Copa e investir em educação e saúde. É usar o processo gerencial que garante a infraestrutura para uma Copa (no prazo, e com os recursos existentes no sistema) para garantir a infraestrutura que sustentará educação/saúde de qualidade.
Qualidade que tem de ser medida pelo que vai sair do sistema ( metas e indicadores de saúde e educação daqui a XXXX anos). Não falta circo (Copa) nem falta pão (bolsa família), falta gestão.
Gestão é escolher um caminho para chegar lá. Política (base aliada, 39 ministérios, alianças, conchavos, toma lá dá cá..) é acomodar interesses.
Contratamos um sistema político que é anti-gestão e que, por isso, não gera resultados. Gera só marquetagem de isopor, sem substância.
Corrupção é consequência inevitável disso porque quando a meta não é “resultado” mas manutenção do poder, é possível “comprar” essa meta.