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Coronavírus: ignore os experts e exagere!

exagere

 

Nas circunstâncias atuais, “entrar em pânico” mais cedo é melhor do que mais tarde, e a justificativa para isso é bem “científica”.

Em ambientes carregados de risco, ERRO só é definido pela informação que estava disponível ANTES, nunca pelo resultado.

Por exemplo: se um milionário excêntrico lhe oferece 10 milhões para fazer roleta russa, eu digo: “não faz! “.Você me ignora, faz, não morre, embolsa a grana, e me zoa: “você não sabe de nada”. Mas eu estava certo, você errado.

Na atual crise do coronavírus, tem um monte de “autoridades” e “especialistas” fazendo roleta russa. Não cai nas recomendações deles.

Não somos bons em avaliar riscos em domínios de alto risco. Simplesmente não sabemos fazer isso. Não há expert que saiba.

A conectividade do mundo moderno criou as condições para que riscos totalmente “não modeláveis” surgissem, e eles surgiram. Não há modelo capaz de dar conta deles.

Para lidar com esse tipo de risco, devemos ignorar nerds que posam de cientistas e usar “ciência raíz”.

Ciência é uma metodologia para lidarmos com a ignorância. Ela diz: em circunstâncias em que os riscos podem ser fatais, agir mais cedo é melhor do que mais tarde. Entrar em pânico mais cedo, é mais científico que mais tarde!

Somos descentes de antepassados que sobreviveram porque avaliavam riscos sem rigor. Quando um vulto que parecia ser um tigre se aproximava da caverna em que nossos “avós” moravam , eles saiam correndo; não ficavam teorizando sobre probabilidades daquilo ser “realmente um tigre”. Não ficavam pedindo mais dados. Não consultavam experts!- saíam correndo.

Se não tivessem agido assim, nós não estaríamos aqui. Somos descendentes de avaliadores de riscos que usavam regras pouco rigorosas, mas que funcionaram muito bem no mundo real. Chamamos essas regras de heurísticas.

Só sobreviveram e deixaram crias os humanos que entravam em pânico mais cedo.

 

homens

 

Os “intelectuais ” que perdiam tempo teorizando, foram sendo dizimados, pois vultos que lembravam tigres, volta e meia eram tigres mesmo. Com o tempo, os genes dos “rigorosos na avaliação de riscos” iam sendo eliminados da população dos humanos.

Sobramos nós, superficiais by design e cheios de “defeitos de fabricação”, mas funcionamos bem nos mundos do passado. Nos mundos do presente, não é certo que funcionaremos.

Escrevo em 18.03.2020, em plena guerra do coronavírus. O Reino Unido (UK) resiste a tomar medidas que outros tomaram para conter a propagação (quarentenas, isolamentos etc..). Geraria pânico desnecessário, eles dizem.

Autoridades no Reino Unido esperam por mais dados e “avaliação rigorosa “. Acham que conseguirão manobrar a propagação da epidemia à medida que vão tendo mais dados. Estão fazendo roleta russa.

 

tirinha

 

Os modeladores de risco competentes sabem que a dinâmica de propagação do corona é como na figura abaixo. As autoridade no UK estão andando de costas sobre a curva, só enxergando o que já passou, e, portanto, pode ser avaliado. Se virarem a cabeça verão um muro. É perfeitamente possível que batam no muro antes de terem tempo para virar, e aí…

 

curva

Os modeladores no UK são ótimos, mas o certo é: “não arrisque”! Se for um tigre , os “racionais”, “rigorosos, “estudados”, que nos culpam por estar exagerando, não estarão aqui. Nós poderemos estar.

Se você reagir hoje à informação que está disponível hoje, ficará para trás porque na próxima semana as pessoas que serão infectadas já estarão infectadas. Vai multiplicando aí.

O problema com os modeladores de risco é que eles acham que mais dados trarão mais conhecimento. Não há qualquer evidência disso. Publicam barbaridades como a figura abaixo, tentando mostrar que suas pesquisas provam que a propagação vai diminuir com a chegada do verão europeu.

 

pontos

 

Esses dados não mostram isso! São ruído, não sinal.

Nassim Taleb ensina em seus cursos que se você gerar pontos aleatoriamente, e coloca-los num gráfico, quase sempre é possível passar uma curva de regressão por eles (como a reta acima) que nada significa! São correlações espúrias, não acredite nelas!

À medida que a pandemia se desdobra, temos de tomar decisões sem dados confiáveis! No mundo real, é preciso REDUZIR RISCOS na ausência de dados confiáveis, através do método mais robusto que pudermos usar. A mãe natureza embutiu em nossos sistemas nervosos uma heurística que tem funcionado muito bem desde sempre: “reaja com exagero!”

Sistemas complexos requerem modelos simples, robustos. Desviar-se da simplicidade e buscar sofisticação, é tentador mas pode ser fatal.

“Especialistas” sofrem de uma doença. Sentem um prazer perverso ao dizer a todos o que fazer, e depois sentam-se e ficam nos observando. Jamais admitem que estavam errados. Adoram vender riscos extremos lastreados em um conhecimento que não têm (porque não existe), mas jamais se responsabilizam .

Experts só existem em domínios em que os problemas estão bem definidos, o que não é o caso da pandemia atual. Esqueça-os! Ganham a vida vendendo a ideia de que sabem (em qualquer domínio!) algo que o comum dos mortais não sabe.

A questão não é se devemos confiar em especialistas ou não.

A questão é que eles não são especialistas.

 

PS: Nassim Taleb, mais uma vez, está no front da tomada de posições claras sobre o que fazer quando não se pode saber o que fazer.

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