Entenda por que governo desmorona, e a ferramenta que evita isso
A presidente é conhecida como pessoa centralizadora, que gosta de se envolver no micro detalhe das operações dos (39!!) ministérios. Ministros morrem de medo dela .Foi apresentada como grande gerente, e o marketing se encarregou de vendê-la assim. Foi propaganda enganosa-marketing é uma coisa útil, mas não consegue violar as leis da física. O governo está entrando em colapso por estar ignorando a mais central delas- a lei da conservação da energia.
A questão é simples: gestão hierárquica dá certo (e só dá certo) quando os problemas a resolver são simples. Problemas simples são os que, uma vez equacionados por alguém “em cima”, podem ser resolvidos por pessoas que não precisam pensar muito, “em baixo”. O topo da hierarquia toma decisões demoradas para que as camadas de baixo possam executá-las rapidamente .
Por exemplo, os CEOs decidem quais empresas comprar, em que mercados entrar etc. Isso envolve mais risco e implica em processo demorados e cuidadosos. Meses, ás vezes anos.
Os gerentes e supervisores abaixo deles, porém, se preocupam com os cronogramas de entrega num horizonte de semanas. Já os operadores ( peões) “no chão da fábrica”, se preocupam só com o que têm de fazer no dia.. A telefonista não tem que se preocupar com a estratégia do serviço do callcenter, ela foi estabelecida por seus superiores.O soldado não tem de se preocupar se aquela montanha é a que deve realmente ser ocupada, os generais já se preocuparam com isso. Um cérebro pode demorar alguns segundos para compor uma sentença, mas as células nervosas que fazem o serviço (permitem com que a sentença seja composta) emitem descargas na escala de milissegundos.. ação mais vagarosa em cima possibilita processos rápidos, eficientes e precisos em baixo.
A maioria das empresas das quais os PIBs dos países dependem, são hierárquicas, e devem continuar a sê-lo( petróleo e gás,varejo,indústria automobilística..) mas vai dizer isso num fórum que trata de “pessoas”! Vão acusá-lo de não gostar de gente, como aconteceu comigo. Fecha parêntesis.
O que deve nos interessar não é “hierarquia versus não-hierarquia”, mas sim “eficiência versus ineficiência”. O tipo de organização (se mais ou menos hierárquica) depende do tipo de entrega a fazer,ou seja ,depende do tipo de coordenação que a empresa precisa ter para resolver os problemas que têm de ser resolvidos. É uma coisa econômica, não tem nada a ver com ideias politicamente corretas ou conselho de guru. Uma grande obra de engenharia- a montagem de um Boeing – depende de hierarquias rígidas para ser realizado. O produto final só surge quando se coordenam milhares de sub-ações de modo que seus efeitos apareçam no lugar certo na hora certa. Se você é “contra a hierarquia” (porque assistiu a uma palestra daquele guru que diz que “a empresa do futuro é horizontal”) pode tentar montar um Boeing deixando a informação fluir livremente sem controles entre os vários grupos envolvidos, mas alguém vai se ferrar (você, ou os passageiros. Espero que seja você…).
Agora, se você trabalha num escritório de advocacia (ou numa empresa de consultoria, ou numa agência de propaganda) pequenos grupos de especialistas atendem, independentemente, às demandas de vários clientes. O que um grupo faz não tem muito a ver com o que outro faz.
Então, sua estrutura tem que ser muito menos hierárquica. Tem que ser uma rede; tem que haver bastante comunicação “lateral”, não só vertical.
Quando os problemas são complexos, ou seja, quando há grande multiplicidade de atores, comportamentos e demandas (como na sociedade brasileira!), hierarquias não funcionam. Nesse caso, a ciência da complexidade ensina que estruturas hierárquicas desmoronam por falta de energia. A solução dos problemas exige mais energia do que uma pessoa (ou grupo pequeno) pode processar para realizar algo útil.
É o caso das demandas que as ruas vocalizaram. Só uma rede coordenada (não comandada!) é capaz de resolver problemas. Nunca um indivíduo.
A solução é conhecida: é distribuir o processo da gestão para camadas mais abaixo .Mas , de novo, as camadas mais abaixo são 39 ministros com suas próprias influências e interesses diversos (e conflitantes!) que se borram de medo da presidente. Dizem que até os discursos deles ela tem que aprovar. Pode funcionar?
As leis da complexidade (procure law of requisite variety no Google) diz que para fazer gestão num sistema complexo assim, só com uma estrutura que reflita, em Brasília, o que ocorre na rua. Ou seja, não pode ser uma pessoa. A energia para realizar o trabalho TEM que estar distribuída numa rede.
Acontece, que a presidente (aconselhada por de seu marqueteiro de olho na campanha eleitoral) insiste em ficar no topo cobrando ,cobrando, cobrando. Não funcionou antes, não está funcionando agora, e não vai funcionar amanhã.