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Bilhões de anos de colaboração/comunicação. Cada vez mais íntima, mais íntima, mais íntima… Onde vamos parar?

Comunicação? O que ciência tem a ver com isso?

Foi do impulso de se comunicar que surgiu a própria vida. Comunicação é da essência da vida na Terra; é a essência da vida na Terra.

Há 4 bilhões de anos algumas gotas de óleo começaram a se formar nas poças de água morna que existiam na superfície daquela Terra estéril e sem vida. Elas eram formadas por combinações químicas que ocorriam ao acaso. Algumas aprenderam a absorver nutrientes do meio exterior e com isso cresceram. Eventualmente dividiam-se em gotas menores de composição quase igual. As que eram melhores em atrair nutrientes cresciam e se dividiam mais e seus filhotes – que herdavam a mesma habilidade – apareciam com mais freqüência pelas gerações futuras. Essas “células” acabaram por desenvolver um mecanismo de processamento de informação – comunicação – que era uma forma de registrar (para uso das gerações futuras) sua receita de sucesso. Isto é: aquilo que as tornava boas em deixar descendentes pelas gerações afora. Sucesso na natureza do mundo vivo é definido assim.

O mecanismo que elas desenvolveram para isso ainda está em uso até hoje. É o código que o DNA escreve. Com o DNA veio uma tremenda vantagem: o conhecimento, na forma de receitas genéticas, podia se transmitir de geração em geração.

As células se sofisticaram e acabaram aprendendo a trocar mensagens químicas entre elas próprias. Isto é: aprenderam também a se comunicar. Comunidades de células que se davam bem juntas ou morriam juntas se formaram. Se a comunidade se dava bem, todas as células eram favorecidas pela evolução. Isso demorou mais 1 bilhão de anos para acontecer. A vida agora acontecia também na forma de comunidades, nas quais as células individuais não mais andavam por aí querendo se dar bem sozinhas (células do estômago dependem de células da pele e dos músculos, e vice-versa). É um filamento único de DNA que contém esse código completo de comunicação. A gora a evolução tinha saído do nível da célula e entrava no nível do organismo coletivo.

Muito depois, essas comunidades de células – esses organismos – começaram a construir estruturas especiais (chamadas estruturas neurais) que tinham a única missão de processar a informação em benefício da comunidade como um todo. Inventaram um aparato especial para isso chamado neuron, e desenvolveram estruturas para detectar, registrar, e entender a informação: olhos, ouvidos, cérebros…

Depois que os neurons foram inventados, o aprendizado se acelerou enormemente; passou a ocorrer no espaço de tempo de uma vida. Um organismo podia, por exemplo, aprender a não comer uma fruta que repetidamente o fazia ficar doente. As lições não precisavam mais ser aprendidas através da evolução – durante intervalos de tempo inimaginavelmente grandes – nos quais os organismos que não eram bons em aprender simplesmente desapareciam da face da Terra e não deixavam descendentes.

Em seguida esses organismos com cérebros começaram a desenvolver formas de se comunicar uns com os outros. A forma mais sofisticada disso é a linguagem humana que permite que idéias complexas num cérebro gerem idéias em outro cérebro. É isso que uma obra de arte faz. Isso permite que nós funcionemos como sociedade e, em muitos sentidos, como um organismo único. Não haveria cultura sem linguagem.

E então nós – a humanidade – repetimos o processo de construir conexões, formas de comunicação, e estruturas especiais para processar nossa informação comunitária. Estamos repetindo os níveis antigos da comunicação dos organismos “químicos” e multi-celulares de bilhões de anos atrás; refinando nossos métodos de obter, registrar e entender a informação. A linguagem foi só o primeiro passo. Telefones, computadores, CD-ROMs, são aparelhos que inventamos para nos agregar ainda mais. Agora a evolução acontece em microssegundos.

A primeira etapa importante na história da evolução – o aparecimento da vida unicelular- demorou alguns bilhões de anos para acontecer. Arranjos multi-celulares precisaram de mais um bilhão de anos mais ou menos. Cada célula tocava algumas outras perto dela para formar um ser vivo aproximadamente esférico. No início, a esfera era a única forma possível porque suas células tinham que estar o mais próximas possível umas das outras para poderem coordenar suas funções.

Depois que surgiu o neuron – um fino fio de tecido nervoso – mais um outro bilhão de anos depois, as células puderam se comunicar à distância, e com essa única inovação a variedade da vida explodiu. Com os neurons a vida não precisava mais ficar confinada à forma esférica. As células podiam se arranjar quase que em qualquer forma, tamanho e função. Borboletas, orquídeas e cangurus tornaram-se possíveis. A vida rapidamente explodiu em milhões de formas diferentes. Logo ela estava em toda parte.

Chips de silício conectados são os neurons da nossa cultura. Até hoje nossa economia estava no estágio, digamos, multi-celular. A era industrial exigia que cada cliente ou empresa praticamente tocasse um no outro fisicamente. Nossas firmas e organizações lembram ajuntamentos, aglomerados. Agora, com a invenção dos neurons de silício e fibra ótica, um milhão de novas formas se tornam possíveis. Uma variedade infinita de possibilidades para as organizações sociais se tornam viáveis de repente. Formas inimagináveis de comércio podem aparecer nessa nova economia. Estamos prestes a testemunhar uma explosão de entidades construídas com base em relacionamentos e tecnologia que vai rivalizar com os primeiros tempos da vida na Terra.

Lembre-se: depois que a vida multi-celular apareceu, sistemas nervosos e cérebros demoraram mais cerca de um bilhão de anos para surgir.

A etapa seguinte, incluindo o desenvolvimento da linguagem, precisou de menos de um milhão de anos. E a mais recente parece estar precisando só de poucas décadas. O processo está se alimentando dele mesmo.

Agora estamos inventando computadores para nos ajudar a produzir coisas de complexidade maior ainda, mas ainda não entendemos o processo – ele é mais rápido que nossa capacidade de entendê-lo. Programas de computador projetam computadores ainda mais rápidos que aceleram o processo mais ainda. É isso que nos confunde: as tecnologias estão se alimentando delas mesmas. Estamos decolando… Estamos num ponto exatamente análogo aquele em que organismos de uma célula só começaram a se tornar organismos coletivos feitos de muitas células.

Somos como “amebas”; não conseguimos perceber de jeito nenhum que diabo é isso que estamos criando.

Não estamos no fim da história. Não somos o produto final da evolução. Há algo vindo por aí, e desconfio (diz Danny Hillis) que é algo espetacular.

Mas… talvez, nunca sejamos capazes de entender o que é, assim como uma lagarta não entende o que é vir a se tornar uma borboleta.

O pequeno trecho a seguir foi retirado de uma aula de Richard Dawkins:

É difícil, para a mente humana, entender as escalas de tempo envolvidas nessa história.

Vamos usar uma imagem.

Eu fico de pé com o braço estendido.

A distância do centro do meu peito até a ponta do meu dedo indicador esticado é o tempo total disponível desde que a vida começou. Mais ou menos 4 bilhões de anos.

Até mais ou menos o meu ombro, temos só bactérias – aqueles organismos de uma célula só. Na altura do meu cotovelo começamos a ver um tipo de célula mais complicado mas os organismos são ainda de uma célula só. Na altura do meu antebraço você começa ver organismos multi-celulares, que a gente já pode ver sem a ajuda de microscópio.

Na palma da minha mão temos dinossauros. Quase no meio do meu dedo você encontra os mamíferos. No início da minha unha você encontra os primeiros humanos. E toda a nossa história: – os gregos, babilônios, a história bíblica, os egípcios os chineses, toda a história, estaria concentrada na ponta da minha unha.

A agricultura tem 10.000 anos. A ciência tem 300 anos. A revolução industrial 200; e o computador pessoal cerca de 10 anos.

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