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A quinta onda é o seu futuro – Parte I

“O que será que será… Que anda nas cabeças, anda nas bocas. que sonham os poetas mais delirantes… Que gritam nos mercados que com certeza, está na natureza.Chico Buarque em “O que será?” Será que será?.”

“Aqueles que não usarem a razão/Morrerão ao agir

W. H. Auden

O leitor típico de Você S.A. vai passar a maior parte de sua vida num mundo completamente diferente daquele que eu conheço. Como nem eu nem ninguém entende ainda esse futuro (que já está aí), o que se pode dizer de útil sobre ele?

O que dizem é que o profissional do amanhã será “gerente dele mesmo”; que ligações “para sempre” (empregos para a vida toda) vão acabar; que no futuro, você estará constantemente entrando e saindo de projetos temporários, para os quais será convidado por sua capacidade e conhecimento. Você vai ser o empreendedor de si mesmo.

O futuro valorizará cada vez mais o trabalhador da inteligência, é o que se fala e, se isso estimula, também amedronta: que inteligência é essa? Como será esse futuro?

Há muito papo furado no mundo das empresas. Valoriza-se muito o “falar bem”, falar bonito, impressionar em reuniões usando poses verbais pseudo-eruditas; mas administrar é fazer a ação se instaurar; é inspirar para a ação e fazê-la acontecer. Já que você é o administrador de sua própria vida, cuidado com palavreado vazio: a idéia tem que levar à ação, senão não vale nada…

Falar do futuro? Claro, não existe outro tema.

Dá para falar do amanhã sem a tola pretensão de prevê-lo?

Tem que dar. Para poder agir você tem que ter alguma paisagem do futuro na cabeça. Dizer simplesmente que teremos de saber “gerenciar o conhecimento”, o “capital intelectual” ou mesmo a “inteligência”, é dizer muito pouco.

Inteligência e futuro sempre estão interligados.

O neurofisiologista William Calvin diz que inteligência tem a ver com a capacidade de antecipar; de planejar cursos de ação até então inéditos, ensaiando-os na mente antes de agir. Não tem que ser necessariamente nada de muito sofisticado não. Num nível bem primário, inteligência é a capacidade que você exercita quando abre a geladeira e pensa no que terá de sair para comprar, para poder preparar um jantar a partir das sobras do almoço. Quando você inventa uma ordem nova a partir de coisas com as quais nunca tinha se deparado.

É esse o talento que têm os poetas ao fazer arranjos de palavras que nos arrebatam com significados intensos, e também o dos grandes chefs de cozinha ao nos surpreenderem com combinações originais de ingredientes. Músicos, escritores, pintores idem. Jean Piaget define inteligência como o sofisticado ato de tatear que se usa quando não se sabe ao certo o que fazer. Inteligência tem a ver com o improviso. É o processo de improvisar e refinar o improviso.

Inteligência sempre tem a ver com olhar para a frente de forma criativa e visualizar o que não é óbvio. Tem sempre a ver com um futuro construído dentro de nossas cabeças.

Se não há como prever detalhes da paisagem do amanhã, já é possível vislumbrar sua silhueta. Não se trata de bola de cristal, mas de idéias que darão o tom do que virá. Comecemos do começo.

1- Você já está surfando na quinta onda

Você tem duas opções: ou caminha para o futuro com suas próprias pernas ou vai rebocado para lá. A primeira opção é muito melhor, e o primeiro passo é entender onde você está. Um economista chamado Joseph Schumpeter disse que uma economia saudável é a que constantemente rompe o equilíbrio através da inovação tecnológica. Em vez de ficar buscando otimizar o que está aí, a atitude produtiva é a de inovar através do que ele chamou “destruição criativa”. Isso é que abriria oportunidades para o crescimento. Essa idéia tem tudo a ver conosco.

Na visão de Schumpeter, os ciclos em que o mundo viveu no passado foram determinados, todos eles, por atividades diferentes. Se você fosse um jovem de visão no final do século 18, provavelmente estaria pensando em seguir carreira em algo ligado à energia hidráulica, ou à indústria têxtil ou à indústria do ferro. Alguém buscando um emprego de prestígio a partir da segunda metade do século 19 pensaria em máquinas a vapor, estradas de ferro ou aço; na virada do século seria eletricidade, indústria química ou motores de combustão interna.

Cada onda dessas estimulava investimentos e expansão da economia. À medida que a tecnologia amadurecia e os investimentos demoravam mais para dar retorno, as oportunidades começavam a diminuir. O boom inicial arrefecia e era substituído por uma nova onda de inovação que acabava com a maneira antiga de se fazer as coisas e criava as condições para um novo boom.

O motor da mudança para Schumpeter é sempre o empreendedor: é ele que age como fermento no processo de “destruição criativa”, permitindo que a economia renove a si mesma e um novo ciclo comece.

Por volta de 1950 o terceiro ciclo de revoluções sucessivas já tinha ocorrido. A quarta onda, que tinha a ver com petroquímica, eletrônica, aviação e produção em massa veio em seguida e, se já não acabou, está no finalzinho.

As ondas de Schumpeter estão encurtando (de 50-60 anos para 30-40), e tudo indica que a quinta onda — a sua onda, leitor — já avançou um bocado; provavelmente já está até aproximando-se da maturidade. É nela que você já está surfando. Dê uma olhada na figura. Daqui a vinte anos o ciclo atual estará terminando; você estará na maturidade de sua competência e, provavelmente, trabalhando em algo ligado a redes/software/mídia/entretenimento/realidades virtuais. O fato central é a Internet. Sabemos que estamos decolando rumo a algo mas não sabemos ainda o que é. Vamos tentar delinear melhor esse “algo”.

2- Comunicação é o nome do jogo

Comunicação é uma idéia transcendental. Foi o impulso de se comunicar que criou a vida; comunicação é a essência da vida na Terra (e fora dela, se houver, aposto).

A quinta onda é a tecnologia interconectando cada vez mais coisas cada vez mais longe e, assim, tornando possível uma inundação de comunicação. Ao fazer isso ela cria uma espécie de sistema nervoso para o planeta inteiro. A economia está virando um super-organismo.

As características do que está ocorrendo são radicalmente novas, mas o processo em si não tem nada de original — é apenas a manifestação atual de uma longa história, que vem se desenrolando a bilhões de anos. Não me peça detalhes do que vai acontecer, mas a tecnologia está trazendo o biológico para o primeiro plano das idéias. O mundo que está acabando é inspirado na precisão dos mecanismos de relógio. Esse é o mundo das ondas de ontem. A quinta onda é a biológica começando a se estender para os sistemas sociais (empresa, família, nações, sociedade em geral). Para entender o amanhã, na empresa e na vida, vai ser preciso entender como.

Há uns 4 bilhões de anos, gotas de uma espécie de óleo começaram a se formar em poças de água morna na superfície daquela Terra estéril e sem vida de então. Eram formadas por combinações químicas que ocorriam ao acaso, entre partículas cuja origem ocorrera vários bilhões de anos antes, quando o próprio universo se formara.

Algumas dessa “gotas” aprenderam a absorver nutrientes do meio exterior e, com isso, cresciam. Eventualmente, dividiam-se em gotas menores, de composição quase igual. As gotas mais competentes em atrair nutrientes, cresciam e dividiam-se mais que as outras, e seus filhotes – que herdavam a mesma habilidade — apareciam cada vez com mais freqüência pelo futuro adentro. Essas “células” acabaram por desenvolver um mecanismo para processar informação, que era ao mesmo tempo uma forma de deixar registrada sua receita de sucesso para uso das gerações futuras.

Sucesso para as coisas vivas é o que as torna boas em deixar descendentes pelas gerações afora.

O mesmo mecanismo está em uso até hoje. É a mensagem que o DNA escreve através do seu código digital. Com o DNA veio uma tremenda vantagem: o conhecimento necessário para se permanecer vivo podia ser transmitido de geração em geração.

As células se sofisticaram e acabaram aprendendo a trocar mensagens entre elas próprias. Isto é: aprenderam a comunicar-se entre si também. Comunidades de células que, ou se davam bem juntas ou morriam juntas, se formaram. Se a comunidade se dava bem, todas eram favorecidas. Isso demorou mais um bilhão de anos para acontecer. A vida agora acontecia também na forma de comunidades, nas quais as células individuais não mais andavam por aí querendo se dar bem sozinhas.

A evolução tinha saído do nível da célula e entrava no nível do organismo coletivo. Muito depois essas comunidades de células — esses organismos — começaram a construir ligações especiais (chamadas estruturas neurais) que tinham a única missão de processar a informação em benefício da comunidade como um todo. Inventaram um aparato especial para isso chamado neuron, e desenvolveram estruturas para detectar, registrar e decodificar a informação: olhos, ouvidos, cérebros…

Depois que os neurons foram inventados, o aprendizado se acelerou enormemente; passou a ocorrer no espaço de tempo de uma vida. As lições não tinham mais de ser aprendidas durante os enormes intervalos de tempo, nos quais os organismos que não eram bons em aprender, simplesmente iam desaparecendo da face da Terra por não deixarem descendentes.

Em seguida, esses organismos com cérebros começaram a desenvolver novas formas de comunicar-se uns com os outros. A mais sofisticada disso é a linguagem humana, que permite que idéias num cérebro gerem idéias em outros cérebros. é isso que uma obra de arte faz. Isso é que permite que funcionemos como sociedade e, em muitos sentidos, permite que funcionemos como um organismo único. Não haveria cultura sem linguagem.

Agora, nós — a humanidade — repetimos o processo de construir conexões, formas de comunicação e estruturas especiais para processar a informação comunitária. Estamos repetindo aqueles níveis antigos da comunicação dos organismos “químicos” e multi-celulares de bilhões de anos atrás, refinando nossos métodos de obter, registrar e decodificar a informação.

A linguagem foi só o primeiro passo. Telefones, computadores, CD-ROMs são aparelhos que inventamos para nos agregar, nos juntar ainda mais. A evolução agora acontece em micro-segundos. A primeira etapa importante na história da evolução — o aparecimento da vida “de uma célula só” — demorou alguns bilhões de anos para acontecer. Comunidades multi-celulares precisaram de mais um bilhão de anos mais ou menos. Cada célula tocava e se agregava a algumas outras perto dela para formar um ser vivo aproximadamente esférico. No início, a esfera era a única forma possível porque suas células, para poderem coordenar suas funções, tinham que estar o mais próximo possível umas das outras. Depois que surgiu o neuron — um fio de tecido nervoso – as células puderam comunicar-se à distância e, com essa única inovação, a variedade da vida explodiu. Com os neurons a vida não precisava mais ficar confinada à forma esférica. As células podiam se arranjar quase que em qualquer forma, tamanho e função. Borboletas, orquídeas e cangurus tornaram-se possíveis. A vida rapidamente explodiu em milhões de formas diferentes. Logo ela estava em toda parte.

Chips de silício conectados são os neurons da nossa cultura. Até hoje nossa economia estava no estágio, digamos, multi-celular. A era industrial exigia que cada cliente ou empresa praticamente tocasse um no outro fisicamente. Nossas empresas e organizações lembram ajuntamentos, aglomerados. Agora, com a invenção de “neurons de silício” e fibra ótica, um milhão de novas maneiras de comunicação tornam-se possíveis .Uma variedade infinita de formas para as organizações sociais tornam-se viáveis de repente. Tipos inimagináveis de comércio podem aparecer nessa nova economia. Estamos prestes a testemunhar uma explosão de entidades construídas com base em relacionamentos e tecnologia, que vai rivalizar com os primeiros tempos da vida na Terra. Lembre-se: depois que a vida multi-celular apareceu, sistemas nervosos e cérebros demoraram mais cerca de um bilhão de anos para surgir. A etapa seguinte, incluindo o desenvolvimento da linguagem, precisou de menos de um milhão de anos. E a mais recente parece estar precisando só de poucas décadas. O processo está se alimentando dele mesmo. Agora estamos inventando computadores para nos ajudar a produzir coisas de complexidade maior ainda, mas ainda não entendemos o processo — ele é mais rápido que nossa capacidade de entendê-lo. Programas de computador projetam outros computadores ainda mais rápidos que aceleram cada vez mais o processo. É isso que nos confunde: as tecnologias estão se alimentando delas mesmas. Estamos decolando… Estamos num ponto exatamente análogo àquele em que organismos de uma célula só começaram a se tornar organismos coletivos feitos de muitas células. Somos como “amebas” no meio disso tudo; não conseguimos perceber, de jeito nenhum, que diabo é isso que estamos criando. Não estamos no fim da história. Não somos o produto final da evolução. Há algo vindo por aí, e desconfio (diz Danny Hillis) que é algo espetacular. Mas. talvez, nunca sejamos capazes de entender o que é, assim como uma lagarta não entende o que é vir a se tornar uma borboleta.

(Nota: o texto é uma adaptação/recriação e “colagem” de dois textos: “The Big Picture” de Danny Hillis que saiu na Wired de 01/1998, e de uma parte do texto de introdução do novo livro de Kevin Kelly: “New Rules For The New Economy”; Viking Press, 1998.)

É difícil, para a mente humana, entender as escalas de tempo envolvidas nessa história. Nós entendemos a mensagem de Schumpeter porque os períodos de tempo envolvidos são mais familiares: dois a três séculos no máximo.

Vamos usar uma imagem para tentar visualizar as escalas de tempo do processo evolucionário.

Eu fico de pé com o braço estendido.

A distância do centro do meu peito até a ponta do meu dedo indicador esticado é o tempo total disponível desde que a vida começou. Mais ou menos 4 bilhões de anos.

Até mais ou menos o meu ombro, temos só bactérias — aqueles organismos de uma célula só. Na altura do meu cotovelo começamos a ver um tipo de célula mais complicado, mas os organismos são ainda de uma célula só. Na altura do meu antebraço você começa ver organismos multi-celulares, que a gente já pode ver sem a ajuda de microscópio.

Na palma da minha mão temos os dinossauros. Quase no meio do meu dedo você encontra os mamíferos. No início da minha unha você encontra os primeiros humanos. E toda a nossa história: os gregos, babilônios, a história bíblica, os egípcios, os chineses, toda a história estaria concentrada na ponta da minha unha.

A agricultura tem 10.000 anos. A ciência tem 300 anos. A revolução industrial 200. E o computador pessoal cerca de 15 anos.

(O trechinho acima foi retirado de uma aula de Richard Dawkins.)

3- A lógica da quinta onda — você constrói o futuro

O mundo que está acabando é um mundo estático construído por recursos e “coisas”: aço, ferro, eletricidade, vapor, petróleo… O mundo que está começando é um mundo de processos ou coisas que evoluem e se reconfiguram: software, rede, conexões.

O primeiro ciclo de Schumpeter começou depois que Newton criou a noção de ciência que temos hoje. O mundo newtoniano é um mundo máquina/coisa/engrenagem/chaminé. Um mundo “mecanismo de relógio tic-tac”. O tempo se desdobra previsivelmente. O futuro é só a extensão do passado. É o mundo do “especialista” que nos prepara para o amanhã, porque estudou e sabe. Da autoridade do padre, do professor, do médico, do cientista… O mundo da estabilidade, do emprego para a vida toda.

Nada disso existe no mundo quinta onda, porque os elemento desse mundo são intangíveis. São processos. Newton está morto, viva Charles Darwin!

A visão newtoniana é que, ainda hoje, influencia nossas cabeças, molda nossas expectativas e nossa visão do mundo, mas o cientista que vai dar o tom da “nova cabeça” é Darwin, o descobridor do processo mais incrível e importante de todos, porque desvenda a própria vida: aquele processo que explica como uma borboleta se torna uma borboleta, ou um olho, um cérebro, ou um estômago se tornam o que são.

Darwin provou que as coisas vivas não são eventos, são processos.

Ele diz que as espécies vivas e as formas delas que a gente vê no mundo são o que sobrou de uma longuíssima série de tentativas e erros. Levante o tapete da história e você verá um gigantesco cemitério de tentativas frustradas de se ganhar a vida. O nome disso é seleção natural.

Newton prevê que o cometa de Halley voltará a passar por aqui exatamente no ano de 2062, Darwin não nos diz nada sobre o futuro nesse nível, mas nos maravilha com a idéia de que ele, futuro, é aberto, e que caberá a nós determinar o que ele será, criando através de nossa inteligência e nossa imaginação, nossos próprios enredos.

Ao contrário do que se diz, Darwin jamais falou que o mais forte é que sobrevive mas sim, que o mais fit, o mais adaptado, é que sobrevive. Isso nada tem a ver com força ou tamanho, mas no caso dos humanos e suas empresas, com inteligência e sensibilidade. Na quinta onda isso é mais importante que nunca e atende pelo nome de estratégia —- muito mais relevante que simplesmente ter “músculos tecnológicos”. Voltaremos a isso adiante.

Por termos adquirido inteligência, podemos interferir no nosso destino e isso — apesar de nos apavorar — é nossa glória. A conseqüência mais assustadora é simples: nosso destino é nossa responsabilidade. Ele será o que permitirmos que seja, mas não tente determiná-lo antes; destino se constrói.

As ferramentas que criamos, desde a machadinha de pedra lascada até o microchip, sempre foram o que fez o homem ir “mudando de cabeça, ao longo da história”. A diferença hoje é que, pela rapidez com que estão nos fazendo mudar de plataforma, nossas ferramentas estão prestes a nos fazer dar um enorme salto. Nem é saltar, é decolar. Estamos sendo forçados — pela primeira vez em toda história do homo sapiens — a nos ver dentro de um processo de mudança que muda mais rápido do que podemos entender. Estamos mesmo decolando, mas. rumo a quê?

A evolução não foi concebida para chegar a nada nem se interessa por nada. Só se interessa em evoluir. Há um relógio mas não há relojoeiro; nós somos os relojoeiros. Sabemos que podemos interferir. Não sabemos é o que fazer. O italiano Nicola Chiaromonte escreveu:

“Se conseguíssemos prever todas as conseqüências de nossas ações, a história seria uma perfeita e idílica harmonia de vontades livres; seria o desdobramento de um projeto racional. Poderíamos então agir sempre racionalmente. Mas, na realidade, não agiríamos porque estaríamos sempre seguindo um padrão estéril e pré determinado. Não seríamos livres. Como somos livres, isso significa literalmente que não sabemos o que estamos fazendo.”

Newton fala de certezas: “percorra esse caminho que você chegará lá”. Darwin fala de uma infinidade de possíveis caminhos, cabe a você escolher um.

Não dá para saber antes. Você tem que aprender, mas ninguém pode lhe ensinar. O foco da “cabeça-máquina” é a coisa certa, o da cabeça inteligente é a construção do próprio futuro por tentativa e erro. Comece a andar!

Comunicação é sim o nome do jogo, mas atenção: não estou falando disso que se ensina normalmente em cursos de comunicação. Estou falando de um processo de informação que está na origem de tudo o que é orgânico, vivo e interessante.

4- Experimente, experimente!

No mundo quinta onda é impossível haver sistemas fechados. A comunicação, no ímpeto de comunicar-se, rompe todas as barreiras. Bye, bye União Soviética. (Cortina de ferro? Não brinque comigo…).

Howard Sherman e Ron Shultz dizem em “Open Boundaries”:

“A diferença que existe entre um sistema aberto e um fechado é a mesma que existe entre um peixe num aquário e outro no oceano aberto. O que está no aquário está mais seguro, emparedado em seu habitat; pode até procriar por um ou dois ciclos, mas quando as condições mudam, ele está completamente despreparado para lidar com qualquer alteração no meio ambiente. O peixe no mar aberto corre, sim, mais perigo. Há mais predadores, mas as escolhas e as oportunidades que ele tem são ilimitadas. Sua habilidade de mudar e adaptar-se é igualmente muito maior.”

De um certo modo, na quinta onda, fazer passa à frente de entender. É por isso que o empreendedor é, mais que nunca, importante. Empreendedor é quem faz; não espera acontecer. A lógica da rede não pode ser apreendida por “cabeças era da chaminé”, mas a maioria dos managers está ainda navegando mares do passado. Vão se afogar na quinta onda.

A capacidade chave a ser desenvolvida é a de desvendar os novos processos que a lógica da rede faz aparecer, e isso só se consegue experimentando.

A nova fase — a da rede — é uma fase em que não se diz, mas se experimenta.

É intensamente existencial.

Como não dá para prever só há um jeito: experimente livremente.

Falar é fácil, eu sei, e as implicações disso são muitas.

Treinamento para qualquer coisa vai ter que ser feito por simulação — quer dizer, experimentação. Chega de enrolação.

Em vez de procurar aquela “teoria geral” que resolve problemas, você vai ter de “otimizar” por tentativa e erro. Teoria geral da administração? Você deve estar brincando…

Tudo é a atitude, não discurso. É engajamento na ação. É tateando que se aprenderá.

Para mim, fora dessa atitude não há saída.

Não é a toa que gostamos tanto do mundo “máquina”. Havia regras claras. A “era da chaminé” representava segurança também. Era fechado. “Faça isso e obtenha aquilo”. Você construía, física e mentalmente, um paredão de segurança para protegê-lo. O mercado estava “lá fora”. Sua empresa interpretava uma realidade externa a ela. Acumulava dados; media. Tudo se referia a uma empresa que era separada e independente daquele “lá fora”.

Mas na quinta onda não há mais “mercado lá fora”, e sim uma ecologia, uma rede de interconexões, envolvendo empresas e consumidores que aprendem juntos. Co-evoluem.

5- A fase irracional da Internet já está passando. O jogo interessante começa agora.

O fato central da quinta onda é ela. Há pelo menos 4 anos a Internet é uma realidade. Comércio eletrônico é, claro, a chave do futuro. Mas quem está ganhando dinheiro com isso? Quem já sabe mesmo como fazer negócios na Internet? Quem pode se dar ao luxo — ou à irresponsabilidade — de limitar suas operações de venda à Internet?

Resposta: só uns poucos que já nasceram com “cabeça de Internet”. Quem tem de fazer a transição para ela, a partir de uma cabeça da “quarta onda”, está sofrendo um bocado.

Não dá para saltar, de repente, para dentro do futuro, mas também não dá para desconsiderá-lo. O problema maior é de “timing” — espere muito e alguém te engole, vá depressa demais e seu negócio estabelecido desmorona. É um pé lá outro cá. Não é “isso ou aquilo”. É os dois. Boa sorte.

Toda vez que se abre um nicho, surgem organismos para tentar ganhar a vida nele. Foi o que ocorreu com a vida na Terra, e é exatamente o que está ocorrendo com esse ambiente explosivamente estimulante de novos experimentos — a Internet. Milhões de tentativas estão sendo feitas. Empreendimentos totalmente novos estão, neste momento, submetendo-se à seleção natural da web. Só uma fração mínima vai sobreviver. Como eu sei? Darwin me ensinou. Como a recompensa para quem chegar lá é enorme, muitas experiências malucas estão sendo feitas por jovens empreendedores que têm relativamente pouco a perder, e que estão forçando as “espécies empresariais” já estabelecidas a evoluir em novas direções, inventando novos modelos de negócios e caminhos diferentes para tentar assegurar sua própria sobrevivência. A rede tem sua própria lógica. Uma vez em cena, a world wide web revelou-se um nicho para todo tipo de experimentação. Um nicho não. Uma vasta coleção deles. Um universo novo.

Mas a maluquice vai acabar — estamos apenas vivendo o primeiro impulso na escalada da quinta onda.

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