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A lógica da colméia é poderosa mas não vá pensar que o líder morreu

Deixe-me recontar a história de “Out of Control”. uma história que ilustra o poder do que chamo de lógica “swarm” – o poder da colméia, a força da inteligência coletiva. Ela agora tem um novo final que ilustra a sutileza do novo tipo de liderança que os novos tempos exigem.

Em 1990, cerca de 5.000 participantes de uma conferência sobre computação gráfica foram solicitados a operar um simulador de vôo concebido por um certo Loren Carpenter. Cada participante estava conectado a uma rede através de um joystick virtual. Cada um dos 5.000 co-pilotos podia mover o avião para cima ou para baixo, direita ou esquerda como bem entendesse, e o avião respondia à “decisão média” dos 5.000 participantes. O vôo aconteceu num grande auditório, de modo que havia comunicação lateral (muita gritaria) entre os 5.000 co-pilotos à medida que eles tentavam guiar o avião. Foi notável como os 5.000 “recrutas” foram capazes de pousar o avião sem quase nenhum comando ou coordenação superior. Saímos daquele auditório convencidos do poder notável do controle distribuído, descentralizado, autônomo, “estúpido” (dumb).

Cerca de 5 anos depois – e aqui está a novidade – Carpenter voltou à mesma conferência com simulações mais avançadas, melhores controles de input por parte da audiência, e maiores expectativas. Desta vez o desafio, em vez de pilotar um avião, era guiar um submarino através de um mundo tridimensional submerso para capturar alguns ovos de um monstro marinho. A mesma audiência agora tinha mais escolhas, mais dimensões e mais controles. O submarino poderia ir para cima e para baixo, para frente e para trás, fechar e abrir suas “presas” etc, muito mais liberdade que o avião tinha. Quando a audiência tomou o controle nada aconteceu. Mexia-se freneticamente nos controles, ordens e contra-ordens eram dadas aos berros. A instrução que um dava era cancelada pela ordem de outro e nada acontecia. Não havia coesão suficiente para mover o submarino. Finalmente a voz de Loren Carpenter foi ouvida através de um alto falante: “Por que vocês não vão para a direita?”, gritou ele.

Click! Instantaneamente o submarino zarpou para a direita. A coordenação autônoma se tornou então possível, a audiência ajustou os detalhes da navegação e saiu em busca dos ovos do monstro marinho.

A voz de Carpenter ali, foi a voz da liderança. Sua curta mensagem carregava poucos bits de informação, mas aquele pouquinho de controle top-down foi suficiente para fazer brotar inteligência naquele grupo antes totalmente desconectado. Carpenter não dirigiu o submarino, foi a audiência de 5.000 co-capitães que executou – mágica e misteriosamente – aquelas manobras complicadas. Tudo o que ele fez foi romper a paralisia daquele “enxame” através da definição da visão de para onde se dirigir. O grupo então, de novo, descobriu como chegar lá da mesma forma maravilhosa que acontecera quando descobriram como pousar um avião cinco anos antes.

Sem alguma forma de comando de cima, o controle embaixo simplesmente congela quando há muitas opções. Sem alguma forma de liderança, a base ficará paralisada entre tantas escolhas.

Resumindo: muitas coisas pequenas conectadas numa rede produzem uma tremenda capacidade, mas para maximizar sua utilidade, esse “swarm power” vai precisar de algum tipo de comando mínimo.

*Tradução livre de um trecho do livro “New Rules for The New Economy”, de Kevin Kelly – Viking Press,1998.

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