O sistema de saúde inglês pode inspirar a reforma do nosso?
Especialistas têm sugerido que nos inspiremos nas melhores práticas do sistema de saúde inglês para reformar o nosso. Pode dar certo?
Não. Será perda de tempo, dinheiro e energia. Veja um trecho do meu livro Inovação em Saúde em que trato disso:
É um erro tentar copiar características “boas” deste ou daquele sistema de saúde. Elas só são boas no contexto das histórias que as construíram. É por isso que, em geral, sistemas de saúde são diferentes entre si. Mesmo aqueles que funcionam relativamente bem, como os da Suíça e Inglaterra, são bem diferentes. Outro vício que emperra os processos de tomada de decisão e solução de problemas em saúde é o de tentar transplantar para um sistema, uma solução específica que se revelou boa em outra história.
Teremos de fazer um design capaz de evoluir na direção certa a partir das condições brasileiras. Mas o máximo que podemos almejar é encontrar processos gerais inspiradores, nunca soluções específicas. As soluções específicas dependerão da história do caminho que nos trouxe até onde nos encontramos.
Esta bela noção científica seria de grande valia se fosse usada pelos formuladores de políticas em saúde, mas, naturalmente, eles nunca ouviram falar de coisas que estão fora de seu rol de convicções ideológicas.
Este livro faz diferente: ele só quer estar certo, não se moldar a uma ideia pré-existente.
O tipo de transformação de que necessitamos não poderá ser resultado de um grande plano, especificado no detalhe. Isso funcionaria para coisas simples (como um Boeing), mas é impossível para sistemas complexos como os da saúde.
Essa impossibilidade é da natureza dos sistemas complexos, e reflete uma característica que chamamos de dependência do caminho (path dependence) – o melhor resultado que se pode obter depende da história que trouxe o sistema até o ponto em que está hoje, e não podemos (nem devemos tentar) passar uma borracha nessa história. Temos que construir sobre ela.
A versão original do sistema inglês surgiu em 1948 como resposta direta à situação em que o país se encontrava no pós-guerra. O americano, também. Eram situações domésticas distintas. Um deu certo, o outro foi uma lástima.
Saiba detalhes dessas histórias. Entenda “dependência do caminho em saúde”. Apoie o livro “Inovação em Saúde: como reduzir custos e melhorar resultados usando uma nova ciência”.