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O “Cisne Negro”

O livro “The Black Swann” – (“O cisne negro – o impacto do altamente improvável”) de Nassim Taleb, foi o não-ficção mais vendido pela Amazon ano passado. Continua nas listas lá de fora. Taleb, um ex-trader que esnoba o mundo financeiro (onde ficou “moderadamente” rico), hoje é um “praticante da incerteza e meditador profissional”, como diz. Dono de um estilo ao mesmo tempo irônico, engraçado e erudito, sua obsessão é o acaso. Na vida, na história, nos negócios. Inovação? Ele lembra que as tecnologias que movem o mundo – Internet, computador, laser – não foram projetadas para serem o que são; que o Viagra foi descoberto, não inventado (buscava-se algo para a hipertensão, não hipertesão). O padrão é: você procura algo intencionalmente (uma nova rota para a Índia) e descobre o que não imaginava (a América). “Cisne negro” vem do seguinte: até a descoberta da Austrália, os europeus pensavam que cisnes, por definição, tinham que ser brancos; nunca ninguém vira um de outra cor. A primeira visão de um cisne negro desmontou a idéia do que se considerava um “cisne normal”. Para Taleb, nossa noção gaussiana de “normal” é ignorância. Eventos tipo “cisne negro” têm três características: são imprevisíveis, têm alto impacto e, depois que aparecem, fabricamos narrativas que os explicam, dando a ilusão de que podiam ter sido previstos. O Google e o 11 de setembro foram black swanns. Muitos hits na música, cinema, literatura, idem. Imprevisíveis. Taleb diz que nos últimos 50 anos, os 10 dias mais extremos nos mercados financeiros foram responsáveis por metade dos retornos. Dez dias em 50 anos! Entretanto, somos enrolados diariamente pela “conversa mole das “explicações” dos experts”. No dia em que Saddam Husseim foi capturado, a Bloomberg News emitiu, às 13h01min, o seguinte boletim: “Títulos do tesouro sobem – captura de Saddam pode não parar o terrorismo”. Ok, risco alto o investidor busca segurança. Meia hora depois, às 13h31min, os títulos caiam e a Bloomberg tinha nova “explicação”: “Títulos do tesouro caem – captura de Saddam faz aumentar a procura por ativos de risco”. Quer dizer, a mesma captura explicando um evento e seu oposto. Pode? É besteira tentar explicar/prever volatilidade hora-a-hora. Taleb é bom. O livro é uma delícia. Explica por que você não deve tentar imitar Casanova (ele deu sorte. Podia ter se ferrado com tantas aventuras amorosas); por que os capitalistas de risco ganham mais do que os inventores (esses, perseguem black swans mas morrem antes da recompensa; Black swanns são imprevisíveis); por que o especulador de sucesso ganha mais do que a prostituta de sucesso (a atividade do especulador é escalável – não precisa de grande esforço adicional para ganhar mais; o ganho da prostituta é limitado pelo número de horas que ela pode trabalhar). O black swann que me interessa é a empresa – a grande corporação de capital aberto. Ninguém (alfabetizado) nega que esse ”animal” é a força motriz do progresso e da riqueza. Seu aparecimento, há 150 anos, não foi previsto, foi fruto do acaso. Vamos ver um pouco dessa história na coluna de junho.

* Artigo publicado na Revista Época Negócios – Nº 15 – Maio 2008 – Coluna INOVAÇÃO.
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