Innovatrix

Como o 11 de setembro poderia não ter acontecido

logo-wtc
Mentes necessitam de outras mentes paras construir coisas de valor. Isolamento é sempre sinônimo de pobreza.
Isso é assim porque sistemas isolados não conseguem vencer a tendência à uniformização – a entropia que puxa tudo para o “porão”. Toda forma de desordem é parecida, só a criatividade é original. Só sistemas abertos – os que trocam com o exterior – podem ser criativos.

A lei da Física que garante isto é a segunda lei da Termodinâmica – a lei da entropia – mas o nome não tem importância. Esta lei tem validade universal- nada escapa dela em nenhum domínio. O que ela diz é que sistemas isolados tendem inexoravelmente ao porão da mediocridade. O que não troca não consegue desenvolver capacidade de resposta aos desafios do mundo.

Steven Johnson relata o seguinte caso que adapto a seguir, livremente, de seu livro: “De onde vêm as boas ideias”:
Em 10 de julho de 2001, Ken Williams, um agente do FBI do Arizona, enviou um comunicado a seus superiores por meio de um mecanismo interno chamado Automated Case Support (ACS) usado para troca de informações sobre investigações em andamento.

O documento de Williams começava assim: “O objetivo desta comunicação é avisar ao FBI de Nova Iorque sobre a possibilidade de um esforço coordenado da parte de Osama Bin Laden para enviar estudantes aos Estados Unidos para frequentar universidades e faculdades de aviação civil”.

Era o que passou a ser conhecido como o “Memorando Phoenix ”- um tiro de advertência disparado durante os meses que antecederam o 11 de setembro.

Ken Williams escreveu o memorando inspirado por um padrão que ele detectara: um número excessivo de pessoas com “interesse investigativo” tinha se matriculado em várias escolas de pilotagem e cursos de aviação civil no Arizona. Ele entrevistara vários desses indivíduos, entre os quais Zakaria Mustapha Soubra, um estudante de engenharia aeronáutica que tinha fotografias de Bin Laden em casa. Williams dizia que mais nove estudantes – da Argélia, Quênia, Índia, Arábia Saudita e outros países do Oriente Médios, haviam se matriculado em escolas de pilotagem e que todos tinham amplas ligações com movimentos islâmicos radicais.

Seu memorando sugeria “… um quadro de indivíduos em condições de conduzir atividades terroristas contra alvos e aviação civil”. Ele pensou que a Al Qaeda estava tramando uma infiltração na indústria de aviação.

Eram sugestões preciosas: ele recomendava que o FBI fizesse uma lista de todas as escolas de pilotagem no país e identificasse qualquer pessoa que tentasse obter um visto de entrada nos EUA para frequentar uma delas. Mas o memorando caiu no que os investigadores apelidavam de “buraco negro” do FBI. Por quase três semanas permaneceu numa “terra de ninguém” antes de ser encaminhado a um analista. Este o classificou como “rotineiro”, não “urgente”. Outro, o classificou como “especulativo e não muito importante”. Os superiores de Willians nunca ficaram sabendo do memorando.

Nas palavras de Steven Johnson: “Willians se deparara com uma ideia provocativa e surpreendente, ainda que incompleta. Se essa intuição tivesse sido conectada com outra ideia igualmente provocativa e surpreendente, que emergiu três semanas mais tarde, a 800 km de Phoenix, o memorando poderia ter transformado a história”.

Ideias têm que fazer sexo para gerar algo útil. Johnson prossegue: 

O memorando de Phoenix poderia ter impedido os ataques caso tivesse seguido o padrão recorrente das ideias que transformaram o mundo. A ideia de Williams (sua intuição) tinha que ter colidido com outra.
Exatamente um mês depois de Ken Williams ter enviado seu memorando, um sujeito chamado Zacarias Moussaoui matriculou-se na Pan Am International Flight Academy em Minnesota, onde começou a ser treinado para pilotar um Boeing 747-400. Todos na escola desconfiaram dele que pagou U$8300,00 pelo curso em dinheiro vivo. Moussaoui demonstrava um interesse excessivo na operação das portas da cabine de comando e pelas comunicações com as torres de controle, embora afirmasse não ter interesse em pilotar um avião real algum dia.

Os funcionários da Panam avisaram o FBI que o prendeu em 16 de agosto por violações da lei de imigração. Um interrogatório convenceu os agentes de que Moussaoui representava ameaça real, e que poderia estar participando de alguma conspiração. Pediram sua prisão.

Em 21 de agosto o pedido foi negado. O FBI tentou de tudo para obter um mandado de busca para examinar os arquivos do laptop de Moussaoui. Em vão. A certa altura, o agente Jones advertiu que Moussaoui “poderia tentar pilotar alguma coisa em direção ao World Trade Center”. O mandato de busca foi concedido na tarde de 11 de setembro de 2001. Era tarde demais.

E o relato impressionante de Johnson conclui: “Para a coisa certa acontecer, as ideias tinham de ter se chocado: a de Ken Williams, que percebia a chance de uma conspiração envolvendo um grupo de fundamentalistas islâmicos, com a ideia dos agentes de Minneapois, de que Moussaoui queria jogar um avião no WTC. Sozinhas, essas ideias não eram mais do que intuições, mas juntas, seu poder de persuasão ficaria enormemente ampliado”.

O verdadeiro problema de Ken Williams não foi ter falhado em imaginar os detalhes exatos ou a iminência da conspiração do 11 de setembro. O problema foi o ambiente! Em vez de circular, o memorando Phoenix foi jogado no buraco negro do ACS. Em vez de encontrar novas conexões, ele foi depositado no equivalente a um arquivo trancado.

“Intuições que não se conectam estão fadadas a continuar sendo intuições”.

Do livro A INTRIGANTE CIÊNCIA DAS IDEIAS QUE DÃO CERTO

Leia também