Moedas virtuais como o Bitcoin podem ou não se sustentar (aposto que se sustentarão), mas não são uma inovação tão grande assim, são apenas a mais recente numa sequência que começou com conchas, pedaços de ossos e colares que serviam de tokens para trocas consideradas de valor no passado remoto.
O que talvez seja a mãe de todas as inovações é a tecnologia por trás . O que você pensaria de uma aplicação tecnológica cuja promessa fosse:
“Garanto clareza e transparência totais nas suas transações de compra e venda de qualquer coisa. Garanto ausência de fraudes. Garanto verdade na transação. Não sou um banco ou autoridade do mundo físico- sou uma rede que valida, atesta e lhe dá posse de qualquer coisa a que você tenha realmente direito. Pode ser dinheiro, pode ser um bem, alguma propriedade- intelectual ou não. Pode ser acesso a alguma coisa, pode ser a execução de qualquer tipo de contrato, pode ser uma permissão que você quer dar a alguém. Tudo acontece entre você e a outra parte diretamente. Ninguém se mete no meio. Não há nenhuma parte para avaliar ou arbitrar o que você tem direito, ou o que você pode. Eu, a tecnologia blockchain, garanto”.
Blockchain é uma tecnologia para fabricar confiança. É 100% à prova de fraudes e o universo de suas potenciais aplicações é infinito-não se limita a dinheiro. Sem ôba ôba, pode realmente ser a maior revolução desde a Internet (e pode se tornar maior que ela; mais relevante até que as transformações geradas pela Inteligência artificial no futuro próximo). Será aplicada a todo tipo de transação onde confiança desempenha um papel, ou seja, a praticamente todo tipo de transação.
Fiquei fascinado ao descobrir que quem criou o Blockchain conhecia a TEORIA DOS JOGOS e inspirou-se em autores que eu também conheço. Quem criou a tecnologia sabia que confiança (TRUST) baseada em reciprocidade é o fator mais importante para que prosperidade aconteça. Dinheiro não é a coisa.
O animal humano só se tornou humano porque entendeu as vantagens da reciprocidade: eu retribuo na medida em que recebo, e todos ganhamos quando agimos assim. Mas papo não adianta, a verdade tem que ser demonstrada para além das palavras, por meio de provas concretas, não verbais. O dinheiro em suas várias formas é uma tentativa disso: atestar que seu possuidor é legitimo, independentemente do que ele possa dizer.
Dinheiro é bacana como atestador “aproximado” de confiabilidade, digamos assim; mas só “aproximado”. Se você tem dinheiro, em princípio, você o mereceu, mas…. Mas talvez não. Dinheiro é sujeito à infinitas formas de ilegalidades e distorções- fraude/roubo, falsificação, manipulação, inflação (que ocorre quando a moeda é percebida como não confiável). É preciso haver um banco central, ou um governo, um rei, ou até Deus (“In God we trust”, como está escrito na nota de 1 dólar)- alguma autoridade que garanta que o que está inscrito ali é verdade. E mesmo assim não garante. Humanos mentem. A mentira deve ter surgido entre os humanos ao mesmo tempo que a linguagem.
Dinheiro, tal como o conhecemos, é o registro de que quem o possui pode esperar reciprocidade no futuro por conta de alguma coisa que tenha feita no passado.
Dinheiro é reciprocidade armazenada num meio qualquer. Não é sobre ouro, papel moeda, ou bancos- é CONFIANÇA inscrita em alguma coisa-tábuas de argila, moedas, barras de ouro, papel.. Não é necessário que haja meio físico, o que importa é que se comprove confiança.
A busca de tecnologias que garantissem a verdade nas transações humanas sempre esteve presente na história. A mais conhecida delas é o dinheiro.O valor econômico da reciprocidade é a grande descoberta da ciência moderna, mas reciprocidade tem custo- trapaça/fraude/roubo são coisas com que os humanos sempre tiveram de lidar.
A tecnologia BlockChain não é simples de ser entendida ou explicada (pense em alguém tentando explicar a Internet no início dos anos 1990), mas será fácil de ser usada. Todos usarão. Na minha opinião é praticamente impossível que não seja adotada em larga escala, dada a propensão humana de buscar transações confiáveis; recíprocas.