As ideias que dão certo não são contadas direito (I)
Thomas Edson só é citado de passagem em meu livro – A INTRIGANTE CIÊNCIA DAS IDEIAS QUE DÃO CERTO, mas sua história ilustra bem seu eixo central: o irritante, falso e contraproducente mito do gênio solitário nos impede de construir inovação em nossas empresas e países.
Este mito vincula a inovação a pessoas especiais – gênios da lâmpada (sem trocadilho)- mas isso é falso. Essa mitologia deseduca pelas razões que o livro explora. Em resumo a tese é a seguinte: o que gera inovação são ambientes inovadores. Ambientes inovadores são redes de trocas e relacionamentos. O ambiente é mais importante que o gênio, ou, se você quiser, a genialidade do gênio não está na inovação solitária que eventualmente cria, mas no ambiente de trocas que ele constrói (que foi o que Thomas Edson fez) e/ou do qual tira partido (que foi o que Einstein fez). O que gera inovação nunca é um gênio isolado; como o livro afirma, se Einstein não tivesse criado a Teoria da Relatividade, outro o teria feito.
Vou reproduzir a seguir, neste e nos próximos posts, a história verdadeira da lâmpada de Thomas Edson – essa história desmonta a tese do gênio solitário e sustenta exatamente o oposto – o modelo de inovação em rede.
“Sim, a lâmpada é um marco na história da inovação, mas por razões completamente diferentes do que se pensa.
Seria forçar muito a barra dizer que foi uma criação coletiva (tipo crowdsourcing), mas é ainda mais distorcido dizer que um único homem chamado Thomas Edison a inventou. A história padrão é assim: depois de um início triunfante após ter inventado o o fonógrafo, um certo Thomas Edison de trinta e um anos de idade, tira alguns meses de folga para visitar a oeste americano, talvez não por coincidência, uma região que era significativamente mais escura à noite do que as ruas de Nova York e Nova Jersey iluminadas a gas. Dois dias depois de voltar ao seu laboratório em Menlo Park, em agosto de 1878, ele desenha três diagramas em seu notebook e os intitula “luz elétrica.” Em 1879, entra com um pedido de patente para uma “lâmpada elétrica” que tem todas as características principais da lâmpada que conhecemos hoje. Até o final de 1882, a empresa de Edison está alimentando de luz elétrica todo o distrito de Pearl Street, em Lower Manhattan.
Thomas Edison é uma história emocionante de invenção: o jovem bruxo de Menlo Park tem um lampejo de inspiração, e dentro de poucos anos a sua ideia ilumina o mundo.
O problema com esta história é que ela é falsa- as pessoas vinham inventando luz incandescente 80 anos antes de Edison prestar atenção nisso. Uma lâmpada envolve três elementos fundamentais: algum tipo de filamento que brilha quando uma corrente eléctrica a atravessa, algum mecanismo para evitar que o filamento seja consumido rápido demais, e uma forma de fornecer energia eléctrica para iniciar a reação- “queima do filamento”- em primeiro lugar” .
(Continua no próximo post)
– Adaptado livremente do livro “How we Got to Now” de Steven Johnson