A tecnologia sem nome no filme ‘2001’
Existe uma tecnologia que molda (e muda) o mundo desde que ele existe. Ela não tem nome, e é construída por três elementos:
- Alguma coisa capaz de “mentalizar” o mundo (algum tipo de “mente”);
- Ferramentas que a “mente” usa para moldar o mundo a seu favor;
- “Instruções de uso” para que as ferramentas moldem o mundo de uma forma amigável à “mente”.
A “tecnologia sem nome” não é um artefato, um software, ou sistema operacional – é a fusão dessas coisas com uma “mente”, resultando em formas novas de se estar no mundo. Ela tem construído inovação desde que o homem ainda nem era homem. Seus três componentes são os mesmos até hoje.
Um filme lançado há 50 anos conta essa história : “2001 – Uma Odisseia no espaço”.(trailer – clique aqui).
Seu início é assim:
Um bando de pré-humanos semelhantes a macacos procura comida no deserto africano, quando um leopardo os ataca e mata um deles. Em outro momento, um bando rival os afugenta de um poço onde tentavam matar a sede. Condenados pela força bruta do “natural” – impossibilitados de alterar seu destino – o bando dorme numa pequena cratera. Ao acordar, depara-se com um enorme monolito negro – uma grande pedra com arestas polidas; uma rocha perfeitamente simétrica, de cor escura, sem origem identificável. Eles se aproximam e o tocam com cuidado. Pouco depois, um dos macacos percebe que pode usar um osso de animal morto que estava por ali, como ferramenta para descarnar carcaças. Descobre também que pode usá-lo como arma para abater presas. Mais tarde, usam o mesmo osso para matar o líder do bando que os tinha escorraçado, e conseguem o controle do poço de onde tinham sido expulsos.
A descoberta que o osso poderia ser usado como ferramenta para “moldar” o ambiente a favor deles, produz nos macacos uma grande euforia que, num crescendo, atinge o ápice quando o macaco líder atira o osso para o alto após abater o rival. (cena do filme/clique aqui)
Ao girar no espaço, a imagem em câmera lenta do osso se funde com a de uma nave hipersofisticada viajando rumo a Júpiter 4 bilhões de anos depois. Essa nave, ficamos sabendo depois, mergulhava no espaço com astronautas a bordo, em busca de explicações sobre o mesmo monólito que os macacos pré-humanos tinha visto.
O alvorecer da humanidade é marcado pela descoberta de que há coisas que “o natural” produz sem intenção (o osso), mas que podem ser configuradas por alguma “mente” para atingir seus próprios fins. Essas coisas podem virar ferramentas. O monolito transmitiu um conhecimento prático aos macacos: o osso (tecnologia/ferramenta) poderia alterar para melhor seu destino. A mesma coisa nós fazemos até hoje (chips de silício são areia da praia reconfigurada).
A história do homem está associada às ferramentas que a mente constrói, e que depois reconstroem a mente de volta.
Pessoas, ferramentas, e formas de usá-las. Esta é a tríade eterna.
As características dessa tríade – “mentes + ferramentas + processos”- mudam com o tempo. Nenhum elemento tem mais peso que os demais – a tríade é “simétrica”.Um amálgama de três componentes, mas suas propriedades são independentes das deles.
Meu objeto de trabalho – gestão e inovação – é sobre a tríade. Recorde o que escrevi num artigo aqui :
Gestão, seja na sua vertente “eficiência”, seja na vertente “inovação”, é sempre sobre – PESSOAS treinadas, trabalhando PROCESSOS pré-definidos usando TECNOLOGIAS adequadas. Vale em fábrica ou escritório. Serviço ou manufatura. Empresas estabelecidas ou startups. Teste e verifique; a ciência da gestão é isso. Jamais ignore essa verdade “chão de fábrica” mesmo que sua empresa seja 100% digital.