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A ciência da informação (ou: todos dizem eu te amo)

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Sempre se falou em informação, mas não sabíamos medi-la. Aprender a medir informação significaria, para fins práticos, que entendíamos o que ela poderia fazer, mesmo que não soubéssemos definir o que ela é. Em gestão (na vida prática) saber medir uma coisa basta para a usarmos. Não são palavras que definem, são experiências.

Quando aprendemos a medir informação, o mundo começou a mudar. Quem mostrou como medir foi um engenheiro americano chamado Claude Shannon nos anos 1940.

É uma sorte que informação tenha sido tratada por engenheiros. Se tivessem sido físicos, eles tenderiam a buscar verdades cósmicas, princípios ligados ao interior da matéria, à origem do universo, essas coisas (conheço a turma). Mas um engenheiro trataria a coisa como Shannon fez- como um problema de engenharia análogo a construir um duto que leve água de um ponto a outro, ou uma ponte, ou um canal- coisas concretas para resolver premências no mundo real.

Shannon queria ajudar a tornar viável uma comunicação telefônica decente nos primórdios dessa tecnologia. Ele estava interessado em coisas práticas como transmitir com precisão uma mensagem de um ponto A para um ponto B. Podia ser de voz (telefone), telex, telégrafo, vídeo, ou o que fosse. Podia ser uma conversa tête-à-tête, uma declaração como “eu te amo”, um código secreto enviado de forma cifrada; uma mensagem de propaganda. Não havia restrição. Comunicação -envio e decodificação de sinais- foi tratada por Shannon de forma abstrata, independente de substrato físico: tudo o que tem a ver com transmissão de sinais de A para B. Ponto. Ele não fez nenhuma consideração sobre o conteúdo das mensagens, não se preocupou com significados ou emoções; nada sobre o que B poderia sentir, ou se A poderia se frustrar. Só sinais.

Não devemos nem nos preocupar em saber o que é “A” ou “B” (uma pessoa? Um animal? Uma bactéria? Um algoritmo?). Só devemos nos preocupar com sinais transmitidos e decodificados com precisão.

Hoje, décadas depois de Shannon, o mundo vive uma dinâmica totalmente direcionada pela informação. Não só entre pessoas, mas de pessoas para algoritmos (Google). De máquina (robô, drone) para pessoas. De máquina para algoritmo, de algoritmo para pessoas. Todas são relações de mão dupla- de uma coisa para outra e vice-versa. São diálogos.

Comunicação, inteligência artificial, drones, Uber, sistemas de diagnóstico que deixam o Dr. House deprimido… Sensores em produtos como latas de cerveja ou sabonetes que sabem o que você comprou e debitam seu cartão sem fila, sem caixa. Todo o mundo econômico- todas as indústrias e, portanto, todas as empresas- estão passando por esse processo. Chamam isso de Big Data, mas o nome não é bom (ainda que marqueteiro). Estamos falando de outra coisa- big intelligence, talvez; ou “supermentes”, talvez. Não importa.

O trabalho de Shannon teve mais efeitos práticos (e de forma mais imediata), do que tudo o mais o mais ocorrido em ciências físicas durante o século XX, incluindo Teoria da Relatividade, Física Quântica, energia nuclear etc.., foi ele quem revelou ao mundo o poder do digital. Sem ele, a linguagem digital teria demorado muito mais para produzir seus “discursos” em nossas vidas.

Seu trabalho “engenheiro”, além dos avanços técnicos, teve implicações filosóficas também, pois sugere (eu disse, sugere) como diz um autor que “se o universo tem uma verdade profunda, ela não se expressa através de forças, choques, trocas de energia ou interações mecânicas, mas por meio de um tipo de comunicação.

O que parece estar na origem de tudo é uma linguagem, não um encontrão”.

Aquele monolito de “2001” se recusa a nos abandonar.

 

 

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