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21 idéias para o século 21

A pergunta mais importante que se pode fazer:

*Artigo publicado como parte da matéria de capa da revista Você S.A. de 12/1999.

Sessenta anos à frente? Vamos primeiro voltar trinta anos.

1968. O filme é “2001 – Uma Odisséia no Espaço”, de Stanley Kubrick, baseado em livro de Arthur Clarke. Hal, um supercomputador que controlava tudo e era responsável pela segurança da missão da nave Discovery, é o personagem principal. Concebido para ser uma inteligência artificial, revela, no final, uma sensibilidade artificial. Detecta uma falha num equipamento; Dave e Poole, os astronautas, vão consertá-lo mas não descobrem nada errado. Conversam numa sala trancada para que o super-computador não os ouça: “Hal deve estar com defeito, vamos desligá-lo”. Mas Hal está vendo-os, e lê os movimentos de seus lábios. Mata Poole durante uma saída dele da nave. Tranca outro – Dave – do lado de fora; desliga os suprimentos de oxigênio da tripulação reserva, que hibernava para entrar em ação mais tarde. Dave, o único sobrevivente, dá um jeito de entrar e prepara-se para desconectar os circuitos de Hal. Ouve-se a voz, metalicamente emocionada, do supercomputador: “Não faça isso, Dave. Não faça isso.Por favor, Dave…”

Clarke, trinta anos atrás, acertou muito em suas previsões sobre o ano 2000, mas a possibilidade de uma sensibilidade artificial (não meramente de uma inteligência artificial), ainda é a maior interrogação do ser humano – a questão última do limite a que podem chegar os artefatos que nós mesmos construímos. Não há sequer uma forma de abordarmos isso, e nem mesmo sabemos se entendemos o problema. Como tratar da experiência subjetiva que define o que é um ser humano? Coisas como inveja, ciúme, vergonha, amor. Não dá para ninguém, hoje, dizer nem que é possível, nem impossível. É a grande questão que o século XXI pode, talvez, responder.

1996. Três anos atrás. O campeão mundial de xadrez, Kasparov, jogava contra um super-computador de verdade, não de filme (o Deep Blue) – e perdeu a partida. Num depoimento impressionante à revista Time, ele (Kasparov, claro) jurou que, em certo momento, Deep Blue “trapaceou” – abandonou a lógica que se espera de uma máquina, e agiu como um humano, dando a impressão de que “pretendia” fazer algo… Kasparov diz ter sentido claramente, naquele momento, a presença de uma sensibilidade humana na sala.

2060. As crianças que nasceram entre 2000 e 2010, estão dando início ao seu terceiro negócio próprio. Aposentam-se aos 80. Vivem até os 120.

O que a física foi para o século XX, a biologia (ou melhor, a biotecnologia), é para o século XXI. Não se sabe é se vamos ter, ainda dentro do século XXI, a resposta para a maior de todas as perguntas.

Não nos perguntamos mais “o que somos nós?” – essa, a biologia já respondeu. Estamos às voltas com outra, mais sutil e muito mais carregada de significado; aquela que embute em sua formulação o pressuposto de que temos uma identidade especial: “quem somos nós?”.

Ainda não sabemos se entendemos a pergunta. Não sabemos sequer se a pergunta tem sentido, mas, talvez, por ironia, um computador entenda e (talvez) possa até responder.

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