Innovatrix

O vôo da empresa

A revista Business Week de 17 de Abril trouxe o ranking das empresas mais inovadoras do mundo. Fiquei confuso. Das “50 mais”, umas lançaram produtos matadores (Apple, 1° lugar). Outras, reestruturaram relações com consumidores (Dell). Outro grupo brilhou com novos processos de produção (Tata). A lista tem GM, Toyota, Honda, Audi e Daimler. Tem Wal Mart e seu concorrente, Target. British Petroleum e sua “inimiga” Exxon. O Google está lá, claro, mas a Microsoft também. Nintendo, Sony e Samsumg. Siemens e GE. McDonald’s e Starbucks. A lista das 50 tem todo mundo, pô! Explicação: inovação hoje é sinônimo de boa gestão. Empresas que dão dinheiro (ou que se recuperam após perderem dinheiro) conseguem isso porque não têm mais práticas estabelecidas. Alteram seu mix (de práticas) permanentemente. Nenhuma inovação é maior que a empresa em si. Como grande parte das que mudaram o mundo, ela não foi desenhada para ser o que é. Foi um cisne negro no sentido de Nassim Taleb (ver minha coluna de maio). Pense só: a maneira pela qual a organização se organiza é que tem sido a maior fonte de geração de riqueza, não o produto que ela fornece. A Ford – com a espetacular inovação chamada linha de montagem – capturou mais valor do que os inventores do motor à explosão. Reinou absoluta até que a GM, nos anos 20, organizou-se por divisões independentes subordinadas a um comando central. Com essa única inovação (não com carros melhores) estabeleceu a moldura da grande empresa do século XX, e assumiu a liderança por 70 anos. Inovação em formas de gerar dinheiro (ou seja, inovação em inovar). Esse “animal” chamado empresa começou fora da lei. Em 1720, o parlamento inglês decidiu que era crime uma empresa emitir ações. Estava escaldado por fraudes em que intermediários enganavam incautos prometendo fortunas a quem comprasse ações das empresas (fajutas) que representavam. O “animal” saiu da jaula de novo no início do século XIX, quando autoridades (na Inglaterra e EUA) perceberam que sem capital de fora não daria para explorar as enormes possibilidades que uma nova tecnologia – a estrada de ferro – oferecia (ah a ambição humana). Quando o estado americano de Delaware aceitou deixar o “bicho solto”, outros tiveram de imitar e liberou geral. Aquele animal (que nascera em pecado 100 antes, lembre-se) ganhou liberdade condicional porque a sociedade precisava dele. Vem se transmutando desde então; continua a se reinventar (olhe a lista das 50 que citei), mas sempre gerou desconfiança. É uma instituição diferente de todas as que havia até o início do século XIX. Essa “republicazinha”- a empresa- não era como um novo exército, um novo hospital, ou universidade – instituições que a sociedade já conhecia, e que, no mesmo período, sofriam reformas. A “Corporation” americana, a “Societé Anonyme” francesa, a “Aktien Gesellshaft” alemã eram uma inovação genuína. A única que operava como um centro de poder independente do governo central. Era um cisne negro diferente. Esse voava.
* Artigo publicado na Revista Época Negócios – Nº 16 – Junho 2008 – Coluna INOVAÇÃO.
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