Innovatrix

A sombra do futuro precisa ser longa

tipos-de-jogos

Lembre-se: interações “não zero” só ocorrem se a relação é duradoura. Se a “sombra do futuro” (como se diz tecnicamente) é curta, o racional é “trair” (“defect“- negar-se a cooperar).Casais em conflito prometendo “nunca mais olhar para a cara um do outro”, brigam até por migalhas tipo talheres e pratos. E em saúde?

Imagine uma pessoa com uma desordem que a obrigue a hemodiálises diárias – é caro, inconveniente, mas a operadora paga. Transplante de rim resolveria, mas a operadora não paga. Por que ela age assim se o custo do transplante ocorrerá uma só vez e o do paciente cairá drasticamente depois? É que não há “futuro” na relação – a operadora sabe que é difícil que o doente fique no plano muito tempo – a empresa à qual pertence trocará de plano (muito comum), ou a natureza se encarregará dele.

A lógica da situação leva à negação do transplante. A gestão do sistema tem que forçar o alongamento da “sombra do futuro” nas relações entre os players (não só entre cliente e plano, o comportamento entre todos os agentes é predatório). O orquestrador de qualquer ecossistema empresarial tem que cuidar para que as relações se estendam no tempo, se não, o sistema não gerará valor. A Toyota e outros grandes agem assim com suas redes de fornecedores. Todo sistema que tenha o usuário realmente no centro, age assim. Saúde não tem. Sem isso, esqueça.

PS.: Meu próximo livro será sobre aplicações da Teoria dos Jogos para resolver os problemas da saúde: “Como acabar com os jogos de soma zero que aumentam custos e destroem o valor do sistema de saúde brasileiro”.

Leia também