Para fazer a inovação acontecer, sabemos que é preciso construir arranjos “pessoas-processos-tecnologias” (tríades) que o mundo lá fora perceba como tendo valor. Isso vale para qualquer coisa, inclusive, claro, para a saúde.
Valor? Sim. Valor é o que o usuário diz que é.
É a competição por valor (não por menor preço) que faz a produtividade avançar em qualquer setor.
Custos caem e resultados melhoram.
O interessante, é que para que um sistema qualquer se sustente, ele tem de estar sintonizado em todas as escalas com o que o usuário necessita . Se não, o sistema fica assimétrico e desmorona (releia “O crime da saúde-todos os suspeitos são culpados”) . O usuário é que é o juiz, e ele profere seu julgamento pagando ou não o preço cobrado.
Dizemos que o arranjo tem de ser fractal.
Um sistema é fractal se cada pedaço da “coisa” reproduz uma miniatura da coisa inteira.
O mesmo “tipo” de estrutura em todas as escalas.
Pense num automóvel. As montadoras têm centenas de fornecedores, e para que seu sistema funcione todos têm de capturar valor (todos têm que ganhar dinheiro). Para que isso ocorra, o cliente que compra o carro na ponta tem que estar disposto a pagar um preço que remunere a montadora e todos os participantes da cadeia. Quem legitima o valor é sempre o cliente final. Não há exceção. O cliente tem que ser o centro. Ponto. Não vamos mais discutir isso!
Foi um russo chamado Geinrich Altshuller o primeiro a propor um método para fazer emergir correspondências entre problemas de usuários e operações mentais que trouxessem respostas para esses problemas.
Altshuller criou a TRIZ – iniciais em russo de uma expressão que significa “TEORIA DA SOLUÇÃO INVENTIVA DE PROBLEMAS”. Ele não usou o termo ”fractal”, mas essa noção emergiu de suas conclusões . Analisando milhares de patentes de engenharia, Altshuller descobriu que as soluções criativas seguem (poucas) rotas que se repetem em vários domínios e em várias escalas. A criatividade é fractal!
A TRIZ é a base do método INNOVATRIX que desenvolvi com Adriano Lima . Levamos as ideias de Altshuller (até então só aplicadas a artefatos tecnológicos) para as organizações e sistemas empresariais.
O problema da saúde por exemplo, fica totalmente equacionado usando essa metodologia (mostrei isso em meu livro INOVAÇÃO EM SAÚDE, esgotado no momento). O cliente tem de passar a ser o centro do sistema de saúde, se não passar, a noção de valor não pode ser aplicada e, se não for aplicada, não há solução para aumento de custos e deterioração de resultados. Ou seja, o sistema vai se tornar cada vez mais improdutivo até entrar em colapso independentemente do dinheiro que se injete nele.
Mas, se meu diagnóstico coincide com o que propõe as dezenas de grupos de estudos e debates que têm examinado a saúde no Brasil, nós discordamos quanto à terapêutica. O método INNOVATRIX sustenta que, uma vez que a rota a seguir esteja delineada, temos de abandonar a intelectualização e partir para a ação via projetos piloto (“protótipos”, na terminologia do método).Tentativa e erro gerenciados- o que Nassim Taleb chamaria de muitas tentativas e erros pequenos.
Mas, os especialistas acham que é necessário conceituar em maior profundidade, debater mais, identificar riscos em detalhe, até descobrir a “coisa certa” a fazer. Isso não é possível. A natureza do problema torna-o “incomputável” nesse nível. Temos de começar pequeno, mas temos que começar. As heurísticas (regras práticas) do método, indicam claramente as iniciativas que tem de ser tomadas.Temos que parar com o blá-blá-blá e FAZER.
Sistemas complexos como o da saúde não têm solução técnica, só são abordáveis por meio de tentativa e erro gerenciados. As soluções não são “sabíveis” a priori, elas emergem –tomam forma- durante o processo.