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A revolução do valor em saúde é a medicina chegando à vida real

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A revolução que começa a acontecer em saúde é inspirada por antigas palavras de ordem da engenharia- “assistência médica baseada em valor” é o novo mantra. Pois saiba que “engenharia do valor” é uma prática corriqueira desde os anos 1940, e se aplica a produtos e serviços. Claro que se aplica à saúde, e é inacreditável o atraso com que chega .

Trata-se do seguinte: a melhor maneira de estabelecer preço de alguma coisa é esquecer preço e fixar-se em valor-deixar que o usuário estabeleça quanto vale. Ele faz isso com base no valor que atribui à coisa que adquire. Sucesso vem de um usuário que adota, fracasso vem de um que abandona (ou não adota).

Mas como se determina valor? Você não determina, é o usuário quem determina, e ele faz isso baseado nos atributos (do produto/serviço) que são mais importantes para ele.

Geralmente há muitos atributos determinantes da adoção ou não. Um exemplo frugal: como você escolhe (e portanto, atribui um valor) uma lâmina de barbear? Idealmente você busca uma que dure bastante, seja simples de manusear, não corte seu rosto, não exija muitas passadas para remover os pelos, não deixe sua pele irritada, seja fácil de lavar, seja leve, tenha empunhadura confortável etc.. Os engenheiros e designers que projetam essas coisas, geralmente identificam algo entre 50 e 150 atributos desses, e depois tratam de descobrir os mais relevantes para determinar a escolha por parte de certo segmento de clientes.

A engenharia do valor pergunta: quais atributos eu realmente devo priorizar para que o cliente me escolha (e não meu concorrente)? Qual o conjunto mínimo de atributos que devo enfatizar para que meu produto seja percebido como tendo valor?

Geralmente há um subconjunto de até 10 métricas dessas que determinam a escolha no mundo real porque as demais já estão sendo satisfeitas pelos competidores.

Esse tipo de análise (value analysis) é novidade em healthcare porque, dada a opacidade da atividade médica, o cliente não sabe objetivamente quais as métricas que poderia usar como critério de escolha em sua condição de saúde.

O paciente tem que confiar num médico ou hospital por razões subjetivas (“todo mundo diz que o dr. Fulano é bom”), mas ninguém divulga os resultados do doutor fulano, ou do hospital em que ele opera (tipo: qual o índice de recuperação do dr fulano para pacientes nas minhas condições? Em quanto tempo os pacientes em condições iguais à minha deixam de sentir dor depois de operados por ele? Quanto tempo depois estavam trabalhando novamente? Se eu fiz cirurgia de próstata, depois de quanto tempo recuperei a funcionalidade sexual? Em quanto tempo deixei de sentir dor? Se coloquei uma prótese no quadril, depois de quanto tempo consegui me levantar pela primeira vez? Em quanto tempo comecei a tomar banho sem ajuda? Se tive de fazer ablação de seio, depois de quanto tempo recuperei a autoestima?

Essas coisas são as que realmente interessam a usuários como eu e você- são métricas da vida real! Elas inexistem em saúde. São desconhecidas porque ninguém as mede, ninguém registra. O que é divulgado é o protocolo que o médico usa, ou o tipo de prótese que ele vai colocar em mim, ou sua fama como intervencionista, ou os prêmios que ganhou, mas ninguém mede e ninguém divulga o que realmente interessa ao usuário- as métricas que são importantes para a sua vida. AS MÉTRICAS DA VIDA REAL!!!

E porque ninguém aguenta mais o descalabro que é a assitência à saúde -(pública, privada, no Brasil e fora)- hoje há uma atividade frenética no mundo todo para que o cliente saiba quais os prestadores de serviço oferecem os melhores “desfechos” em cada situação médica, e com isso possa fazer suas escolhas. Exatamente como quem escolhe uma lâmina de barbear- segundo seus próprio critérios! Não diga que saúde é diferente.Não é! São as métricas da vida real que direcionam escolhas em qualquer atividade!

 Desfecho ” é o conjunto de métricas que um cliente valoriza como resultado da escolha que faz. Essas métricas (outcomes ) da “vida real” são do tipo fazer xixi sem sentir dor, voltar a ter ereção, conseguir levantar da cadeira sozinho, ir ao banheiro sem ajuda… Esqueça a fama do doutor, ou do hospital, olhe para como estão os desfechos de seus clientes na vida real.

Notem que coisa singela: o usuário não dá a mínima se você é acreditado ou não, se estudou em Harvard, se participou de congressos, se tem publicação em revistas internacionais, ou se é admirado por seus pares.

O usuário quer saber quando sua incontinência urinária vai acabar!! Usuários só se interessam por métricas da vida real!

Então, a revolução virá quando passarmos a medir e divulgar isso que chamam de “outcomes” (conjuntos de métricas da vida real) para cada condição de saúde -aí você poderá comparar e escolher. Se você precisa colocar uma prótese de quadril e o doutor X e o doutor Y são igualmente famosos, em quanto tempo os pacientes de ambos conseguem se levantar? Compare.

E andar? Em quanto tempo deixam de sentir dor? Enquanto sentiam dor, qual era sua intensidade? Compare!

Esses são outcomes (métricas) “vida real”. Quando os outcomes para suas condições médicas são conhecidos (medidos e divulgados), o cliente pode aferir o valor e estabelecer o quanto estará disposto a pagar.

Haverá competição real. Os preços vão cair porque o valor vai aumentar como aconteceu em praticamente todos os setores da economia. Este é o caminho. Pode esquecer tecnologia, sistemas de TI, aplicativos, etc.. tecnologia será importante como habilitador- para ajudar a construir desfechos que sejam percebidos como melhores, mas nada vai começar com tecnologia, tudo vai começar com medida e divulgação de “desfechos na vida real”!

 

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